UNICAMP 2021
PROPOSTA 1
DIÁRIO SOBRE ACONTECIMENTOS DURANTE A PANDEMIA
ID: FIX
Você se encontra em uma situação de vulnerabilidade
socioeconômica, que o deixa mais exposto à infecção pelo vírus da Covid-19, e
se sente indignado/a com a negligência do Estado, que não adota medidas sérias
e eficazes para evitar que você e outros/as trabalhadores/as corram esse risco.
Em um ato de resistência psíquica e política, você decide escrever um diário
para registrar o seu testemunho dos acontecimentos extraordinários da pandemia da
Covid-19, para que as gerações futuras possam entender como as decisões
políticas de um dado momento são determinantes para a história da humanidade.
Escreva um texto de entrada para o seu diário, no qual
você deve:
a) narrar um episódio em que você corre o risco de
contrair a Covid-19 em razão de seu trabalho e
b) denunciar, a partir desse episódio, a
necropolítica como forma de organização de um Estado negligente em relação à
saúde dos mais vulneráveis.
Lembre-se de que seu diário servirá de testemunho
para que seus descendentes tomem conhecimento do exercício da necropolítica que
marcou a pandemia da Covid-19. Para escrever seu texto, leve em conta a
coletânea apresentada a seguir.
Diário é um gênero textual, geralmente de caráter
íntimo, em que se fazem anotações de experiências pessoais cotidianas, e que é
organizado pela data de registro dessas anotações. Alguns diários podem
ultrapassar o interesse privado do seu autor e interessar a outros possíveis
leitores, seja pela pertinência das reflexões pessoais, seja por documentar uma
época histórica.
1. Necropolítica é um conceito desenvolvido pelo filósofo
Achille Mbembe que questiona os limites da soberania quando o Estado, baseado
em premissas coloniais, racistas e capitalistas, escolhe quem deve viver e quem
deve morrer (...). Segundo a pesquisadora Rosane Borges, racismo, capitalismo e
necropolítica são inseparáveis. Um sustenta o outro. Aquilo que o capitalismo
acha que não serve mais, ele abate, porque são corpos negros. O que se faz com
a massa sobrante do mercado de trabalho? O que se faz com o contingente de pessoas
que não são absorvidas pelas novas competências técnicas e tecnológicas do
capitalismo? Se mata, se exclui. Obviamente que essa mesma massa sobrante são
corpos negros, mulheres negras, que foram fundamentais para a acumulação de
capital. Corpos que foram escravizados e que hoje não interessam mais para o capital.
São pessoas que estão vivendo nas franjas do sistema social, marginalizadas.
Nesse processo de marginalização, a gente cria linhas divisórias entre nós e os
outros. E esses outros podem ser alvo de tudo. Inclusive da morte.
Adaptado de O que é necropolítica. Disponível
em
https://ponte.org/o-que-e-necropolitica-e-como-seaplica-a-seguranca-publica-no-brasil/.
Acessado em 15/01/2021.
2. Quais são as consequências dessa pandemia no que
diz respeito à reflexão sobre igualdade, interdependência global e nossas
obrigações uns com os outros? O vírus não discrimina. Poderíamos dizer que ele
nos trata com igualdade, nos colocando igualmente diante do risco de adoecer,
perder alguém próximo e de viver em um mundo marcado por uma ameaça iminente. A
desigualdade social e econômica garantirá a discriminação do vírus. O vírus por
si só não discrimina, mas nós, humanos, certamente o fazemos, moldados e
movidos como somos pelos poderes casados do nacionalismo, do racismo, da xenofobia
e do capitalismo. Quais mortes chorar? Parece provável que passaremos a ver um
cenário doloroso no qual algumas criaturas humanas afirmam seu direito de viver
a custo de outras, reinscrevendo a distinção espúria entre vidas passíveis de
luto e aquelas não passíveis de luto – isto é, entre aqueles que devem ser
protegidos contra a morte a qualquer custo e aqueles cujas vidas não valeriam o
bastante para serem salvaguardadas contra a doença e a morte.
Adaptado de Judith Butler, O
capitalismo tem seus limites.
Disponível em
https://www.redebrasilatual.com.br/blogs/blog-narede/2020/03/judith-butler-sobre-a-covid-19-o-capitalismo-temseus-limites/. Acessado em 08/09/2020.
3.
3.
Adaptado de Pedro Conforte / Plantão
Enfoco. Disponível em https://www.brasildefato.com.br.
Acessado em 28/09/2020.
4.

.
Adaptado de Confinada. Roteiro de Triscila Oliveira e Ilustração de Leandro
Assis.
Disponível em @leandro_assis_ilustra. (Instagram). Acessado em 14/12/2020.
5. O chefe de governo negou a gravidade do
problema, insultou os coveiros, promoveu aglomerações e espalhou desinformação
sobre o distanciamento, a higienização e o uso de máscara. Jogou com a vida dos
que acreditaram em um remédio inócuo, a cloroquina, e nisso com - prometeu o
Exército e o SUS. Desmoralizou os médicos Ministros da Saúde, ignorou medidas
que inibiriam a evolução da doença e deixou mofar milhões de testes que ajudariam
a salvar vidas. Após atribuir poderes políticos às vacinas, o governo federal
se dedica agora, negando uma cultura de cem anos, a minar a confiança nelas.
Por ele, a pandemia nunca será superada.
Adaptado de Ruy Castro, Os médicos
sobre Bolsonaro. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/colunas/ruycastro/2020/12/osmedicos-sobre-bolsonaro.shtml.
Acessado em 14/12/2020.