Movimento que tem força
principalmente nas redes sociais, a cultura do cancelamento envolve uma
iniciativa de conscientização e interrupção do apoio a artistas, políticos,
empresas, produtos ou personalidades públicas, devido à demonstração de algum
tipo de postura considerada inaceitável. Normalmente, as atitudes que geram
essa onda dizem respeito ao ponto de vista ideológico ou comportamental.
Disponível
em: https://canaltech.com.br/redes-sociais/a-cultura-de-cancelamento-foi-eleita-como-termo-do-ano-em-2019-156809/,
com ajustes
Texto III
Como tudo na vida, a cultura do cancelamento tem bônus e ônus. Como ponto
positivo, percebo a indignação das pessoas em relação a situações que antes
passavam despercebidas, como casos de preconceito, machismo e racismo (...). No
entanto, o ponto negativo desse “movimento” está na “anulação” por completo.
Não há uma conversa, não há uma busca por se colocar no lugar do outro. É claro
que há atitudes que são deploráveis e até criminosas. E, para usar outro termo
da internet, não é preciso “passar pano” acobertando erros. Mas a decisão de
cancelar alguém, muitas vezes, pode ser drástica demais.
Além dos seus usos mais tradicionais – como deixar de assinar um serviço
ou desmarcar um compromisso agendado – o verbo “cancelar” tem sido empregado
com frequência, recentemente, para pessoas. O ato de cancelar alguém costuma
ser aplicado a figuras públicas que tenham feito ou dito algo considerado
condenável, ofensivo ou preconceituoso. São inúmeros os exemplos de cancelados,
e a lista aumenta a cada semana. O cancelamento é primeiramente decretado numa
rede social, onde gera uma onda de críticas e comentários. Depois estampa manchetes
e, normalmente, é seguido de uma retratação do cancelado, que pode ou não ser
acatada por seus críticos.
Michel Foucault,
filósofo francês, utilizou o termo em sua obra “Vigiar e Punir” (1975), ao
tratar da sociedade disciplinar. Nas sociedades disciplinares, que tiveram seu
apogeu no século 20, as instituições sociais adotam uma postura de extrema
vigilância, em que o poder é exercido cuidadosamente para impor condutas aos
indivíduos. Nessa lógica, Foucault alega que o indivíduo se desloca de um “meio
de confinamento” para outro: a família, a escola, a prisão, a fábrica. Na
contemporaneidade, pode-se dizer que surge mais um meio de confinamento: a
internet. Dado que um número cada vez maior de indivíduos, principalmente
pessoas públicas, sentem medo de serem cancelados e vítimas do julgamento
online, é esperável que optem por se comportar de uma maneira que agrade o
público, já que estão sendo observados continuamente. Em outras palavras, o
receio de ser cancelado pode inibir comportamentos naturais dos indivíduos e
fazê-los agir por conveniência. Sendo assim, cancelar uma pessoa apenas por
cancelar constitui um ato de violência e não é algo benéfico, já que esse ato
pode causar danos sérios à psique do indivíduo e condicionar seu comportamento
de forma nociva. Porém, é crucial pontuar que o fenômeno do “cancelamento”
influiu diretamente na propagação de discursos importantes na sociedade, que
deveriam ser escutados e ter seu espaço para discussão. Ou seja, quando o
“cancelar” é utilizado como uma forma de fazer uma crítica social e
possibilitar o avanço e desenvolvimento coletivo, o fenômeno não exerce apenas
uma influência negativa na sociedade.
BESSA, Liz. Disposível em: https://www.politize.com.br/cultura-do-cancelamento/.
Acesso em 24 fev.2025. Com ajustes.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos
textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo
de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo sobre o tema: “A
questão da cultura do cancelamento nas redes sociais”. Apresente proposta
de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e
relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu
ponto de vista.