O movimento hoje conhecido como "cultura do cancelamento" começou, há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como justiça social e preservação ambiental. Seria uma maneira de amplificar a voz de grupos oprimidos e forçar ações políticas de marcas ou figuras públicas.
Funciona assim: um usuário de mídias sociais, como Twitter e Facebook, presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou foto e posta em sua conta, com o cuidado de marcar a empresa empregadora do denunciado e autoridades públicas ou outros influenciadores digitais que possam amplificar o alcance da mensagem. É comum que, em questão de horas, o post tenha sido replicado milhares de vezes. A cascata de menções a uma empresa costuma precipitar atitudes sumárias para estancar o desgaste de imagem, sem que a pessoa sob ataque possa necessariamente se defender amplamente.
O cancelamento é diferente da trollagem típica de internet, eventualmente com insultos coordenados, frequente em disputas de opinião entre usuários das redes. O "cancelamento" é um ataque à reputação, que ameaça o emprego e os meios de subsistência atuais e futuros do cancelado. (...)
Você pode ser cancelado por algo que você disse em meio a uma multidão de completos estranhos se um deles tiver feito um vídeo, ou por uma piada que soou mal nas mídias sociais ou por algo que você disse ou fez há muito tempo, e sobre o qual há algum registro na internet. E você não precisa ser proeminente, famoso ou político para ser publicamente envergonhado e permanentemente marcado: tudo o que você precisa fazer é ter um dia particularmente ruim, e as consequências podem durar enquanto o Google existir", definiu o colunista do The New York Times Ross Douthat em uma coluna sobre cancelamento há alguns dias.
Muitos daqueles que foram alvo de cancelamentos, ou que se solidarizam com pessoas que tenham sido criticadas dessa forma, se queixam de uma perseguição inquisitorial que cercearia o discurso e as ações de comediantes, artistas, políticos e youtubers. Críticos apontam ainda que as reações muitas vezes alcançam dimensões desproporcionais ou se dão sem base em fatos. “Não existe qualquer zona cinzenta a partir da lógica do espetáculo”, pondera o doutor em psicologia Leonardo Goldberg. “E a cultura do cancelamento entra nessa esteira de modo completamente arbitrário, porque [faz parte] da lógica da não contradição, tão presente na internet. Não existe conversa ou escuta”. “Acho que o [aspecto] negativo é a forma como a gente lida numa certa cultura do ‘hater’, do ódio, esquecendo que precisa fazer críticas mais embasadas e ter mais consciência coletiva da nossa responsabilidade”, disse ao Nexo a colunista e feminista Stephanie Ribeiro.
COMANDO: Imagine que você tenha sido convidado para escrever um VERBETE a ser publicado numa enciclopédia digital. A finalidade do verbete é explicar o significado da expressão CULTURA DO CANCELAMENTO, cujo conceito ainda é pouco conhecido.
Você, então, deverá:
. definir a expressão “cultura do cancelamento”; . citar dois exemplos para elucidar melhor o assunto e . advertir o leitor acerca das consequências da cultura do cancelamento.
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O que é VERBETE? O verbete é um conjunto de definições, acepções, exemplos e outras informações acerca de determinada palavra, expressão ou assunto. O verbete é gênero que se apropria da função metalinguística da linguagem, e está presente nos dicionários, nas enciclopédias, nos glossários e, com o advento da internet, em revistas/sites virtuais.
Como fazer um VERBETE? Excetuando-se a estrutura rígida/tradicional dos verbetes nos dicionários, nos demais espaços, a estrutura é mais flexível. O importante é que, por meio de uma construção lógica e coerente, ao final da leitura do verbete, o leitor compreenda perfeitamente o significado daquilo a que o verbete se propôs. Os exemplos daquilo que se define são importantes para o melhor entendimento do leitor. O verbete não tem marcas pessoais – é escrito na 3.ª pessoa do singular e não registra a opinião daquele que o desenvolve.