Artistas plásticos (pintores, escultores, grafiteiros
etc.), cada qual a seu modo, fazem retratos de si próprios, ou seja, fazem autorretratos.
Na Literatura: O poeta e o escritor, valendo-se das técnicas descritivas, escrevem seus respetivos retratos, em versos ou em prosa. Para isso, é essencial “investigar”, além dos aspectos físicos, os psicológicos; é como se o autorretratista pudesse ver além do espelho – pudesse ver “o de dentro”. As descrições ficam mais precisas quando são utilizados os cinco sentidos para explorar aquilo que se pretende pormenorizar – cheiros, ruídos, sabores, texturas, cores devem ser provocados para “desenhar” melhor o perfil físico e emocional do autorretratista.
É necessário ir além dos aspectos descritivos previsíveis: bonito, feio, alto, baixo, alegre, triste... tudo isso é muito comum. O leitor vai “ver” exatamente aquilo que o escritor quiser/permitir que ele veja, fraca ou intensamente, a depender da sensibilidade e das técnicas descritivas empregadas pelo escritor/autorretratista.
Figuras de linguagem: Para valorizar as descrições, procure utilizar a sinestesia, figura de linguagem que é a mistura de sensações ou percepções ou sentidos. Ex.: “Minha melhor recordação está sempre quente, pronta.” (Guimarães Rosa). Note que foram empregados um sentimento (recordação) e um sentido (tato – quente).
Exemplos:
Eu sou um menino maior que
muitos e menor que outros. Na cabeça tenho cabelo que mamãe manda cortar mais
do que eu gosto e, na boca, muitos dentes, que doem. Estou sempre maior que a
roupa, por mais que a roupa do mês passado fosse muito grande. Só gosto de
comer o que a mãe não quer me dar e ela só gosta de me dar o que eu detesto.
Millôr Fernandes. Conpozissões
infãtis. 2. ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1976. p. 11.
O espelho lembra-me do sarampo –
voltei do Sul com um nariz de criança, uma cicatriz de sarampo bem calculada,
na ponta do nariz. Mas não me queixo por isso – aliás, minhas pequenas queixas
sempre foram secretas. (...) Já pensei em mudar de nome – Ângela não me agrada
muito. Queria também trocar os joelhos – são magrelos demais. Ainda não descobri
se prefiro o amarelo ao roxo; a compota de figo à sopa de ervilhas, que têm a
cor dos meus tênis novos. Eu sou esquisitinha, mas, assim mesmo, eu gosto de
mim.
Gislaine Buosi
COMANDO:
Redija um autorretrato.
Invista em aspectos físicos e psicológicos. Cuide para que o texto não se
prenda a apenas aspectos descritivos previsíveis. Escreva de 25 a 30 linhas.