Djamila Taís Ribeiro dos Santos é uma das
principais intelectuais negras e feministas do Brasil. É filósofa, escritora e
pesquisadora, mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São
Paulo. É também colunista do jornal Folha de S. Paulo e coordenadora da coleção
de livros Feminismos Plurais, entre outras atividades.
Sobre as suas ideias, leia o texto a
seguir, transcrito do áudio de uma entrevista ao podcast podpah, que se encontra no Instagram Influência Negra.
Como é que cê vai falar:
Acorda mais cedo???
A minha mãe acordava 4 horas da manhã.
Isso não quer dizer nada, a minha mãe era superesforçada.
E não é essa a questão.
E não tem nada a ver com isso.
O que tem a ver é que a gente parte de um lugar marcado por
desigualdades estruturais.
Então, como é que eu ia falar pro meu aluno da periferia, que
trabalhava de dia pra estudar à noite, que não se alimentava bem, que não tinha
condições, que...
Ah! Basta você se esforçar aí, que você passa no vestibular da
USP.
Claro que ele poderia até passar, mas ele ia ter que fazer um
milhão de coisas.
Aí o outro que mora, sei lá, nos Jardins, estuda outros idiomas,
se alimenta bem...
Enfim, quem vai passar???
O outro que mora nos Jardins vai passar, não porque ele é mais
inteligente, mas é porque ele teve mais oportunidades.
Porque não é uma questão de capacidade, é uma questão de
oportunidade.
Porque, quando você dá oportunidade, a gente vai.
Eu tive oportunidade de estudar, hoje estou aqui conversando com
vocês.
Se a gente tem oportunidade, a gente vai e estuda.
A questão é que as oportunidades não são as mesmas...
E as pessoas querem, às vezes, validar um discurso...
Não entendem que a realidade delas não é a realidade de todo
mundo.
Texto 2
A relação entre
branquitude e privilégio: O processo de colonização das Américas pelos europeus
e, posteriormente, o conceito de raça, forjado pela pseudociência do fim do
século 19, construíram uma ideia fictícia de superioridade branca que tem
efeitos perceptíveis no cotidiano e na sociedade brasileira como um todo.
Embora raça seja uma construção social e não exista biologicamente, os brancos
usufruem de privilégios e vantagens que vão desde ter mais facilidade de
ascensão social a não receberem, no dia a dia, olhares de desconfiança ao
entrar numa loja para fazer compras. [...]
Reconhecendo os
privilégios dos brancos: [...] Os privilégios, tanto simbólicos como materiais,
operam, portanto, no sentido de criar vantagens às pessoas do grupo racial
branco, possibilitando maior acesso a direitos, mesmo os mais básicos, bem como
uma maior facilidade de ascensão social. Desse modo, vale caracterizar que a
branquitude é uma posição em que sujeitos que a ocupam foram sistematicamente
privilegiados no que diz respeito ao acesso a recursos materiais e simbólicos,
gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo imperialismo, e que se mantêm e
são preservados na contemporaneidade. Como exemplo disso, podemos citar o
famoso artigo de 1988, de Peggy McIntosh, em que ela elenca, a partir de sua
experiência como mulher branca, privilégios da branquitude no dia a dia: “Se eu
desejar, consigo estar na companhia de pessoas da minha raça a maior parte do
tempo. Posso fazer compras sozinha a maior parte do tempo, sabendo que não
serei seguida ou assediada. Posso ligar a televisão ou abrir a primeira página
do jornal e ver pessoas da minha raça amplamente representadas. Quando me falam
da minha identidade nacional ou sobre “civilização”, mostram-me que pessoas da minha
cor fizeram do meu país o que ele é. Posso ter certeza que meus filhos receberão
materiais curriculares que atestam a existência da raça deles. [...] Consigo
proteger meus filhos a maior parte do tempo de pessoas que podem não gostar
deles. [...] Posso me dar bem em uma
situação desafiadora sem que digam que o crédito é da minha raça. Nunca sou
chamada a falar em nome de todas as pessoas do meu grupo racial. [...] Posso me
sentir segura de que, quando eu pedir para falar com “o responsável”, vou
encontrar uma pessoa da minha raça. Se um guarda de trânsito me pede que pare
ou se um fiscal da receita auditar meus impostos, posso seguramente saber que
tal decisão não ocorreu por conta da minha raça. Posso facilmente comprar
pôsteres, cartões postais, livros de fotos, cartões de aniversário, bonecas, brinquedos
e revistas infantis com fotos de pessoas da minha raça. [...] Posso escolher
acomodações públicas sem temer que as pessoas da minha raça não poderão entrar
ou serão destratadas nos lugares que eu escolhi. [...] Posso escolher um corretivo
ou curativo cor “da pele” e saber que ele mais ou menos vai ter o mesmo tom da
minha pele.
Fonte: SCHUCMAN, Lia Vainer. A relação entre branquitude e privilégio.
REVISTA CIÊNCIA HOJE.
PROPOSTA DE
REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos, elabore, em 20 linhas, uma redação
dissertativo-argumentativa. Sua redação deve apresentar um ponto de vista por
meio de argumentos, isto é, uma tese (introdução), um desenvolvimento
argumentativo que comprove a tese, e uma conclusão em síntese, com estilo de
língua formal adequado a essa escrita e que atenda à seguinte temática: A
branquitude como lugar de normatividade, a partir das normativas raciais
eurocêntricas, que negam ou limitam, nas escolas brasileiras, nos livros, o
conhecimento aos aspectos da história e da cultura africanas, desvalorizam a
ancestralidade histórica, literária, filosófica, científica da África, bem como
desvalorizam as estéticas e as religiosidades negras, e perpetuam o privilégio
branco.