TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA - MODELO UFU - POTENCIAL DO RISO
UFU - ARTIGO | TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
POTENCIAL DO RISO
TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
MODELO UFU – ID: I9H
Refletir sobre o potencial do riso em transformar
histórias e em compartilhar esperanças para a realidade de crianças e jovens do
país é um ato relevante dentro do contexto social brasileiro. Ainda mais quando
pensamos que muitas crianças e adolescentes são expostos a cenários de
violência, precariedade socioeconômica e crises humanitárias que repercutem
quase que diariamente em todo o território nacional.
No livro "Rir é Preciso", o médico
psiquiatra do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas e professor da
USP Daniel Martins de Barros destaca, por exemplo, a força de superação que o
riso desperta, que nos leva para “além das condições imediatas e que pode nos
ajudar a superar contextos de sofrimento”. Atentar para esse viés de cura,
de como o contato com o lúdico pode trazer acolhimento e apoiar na recuperação
da autoestima de crianças e jovens, é também fundamental, principalmente quando observamos o
aumento dos casos de depressão e ansiedade entre este público, em diversas
partes do mundo, conforme destacou uma pesquisa recente da Universidade de
Calgary. Em contraponto a esse contexto, o lúdico — que está por trás da ação
libertadora de rir (e de se fazer rir) — para além de proporcionar momentos de
alegria e prazer genuínos, tem o poder de gerar benefícios que vão do aumento
da sensação de segurança em crianças, ao fortalecimento da criatividade e da
imaginação criadora que renovam nos jovens sua capacidade de sonhar outros
futuros.
Indo além, o riso é ainda uma ferramenta de conexão
entre pessoas, podendo romper barreiras de preconceito, por meio do humanidade que o sustenta e, nos seus limites mais amplos, pode contribuir para mudanças
sociais e para lidar com desafios que ainda fazem parte da realidade de nosso
país e do mundo.
Esse caráter, ao mesmo tempo conectivo e de
revelação, é um elemento histórico da palhaçaria e das diferentes formas
expressivas que buscavam no "fazer rir" uma ponte tanto para o
diálogo quanto para a crítica social. Pensemos, por exemplo, na figura do bobo,
contratado pelas cortes europeias para divertir a realeza, mas que trazia em
suas falas e encenações denúncias sobre aqueles mesmos reinados; ou nas
cantigas de escárnio e maldizer do trovadorismo que também tinham entre seus
temas um caráter transgressor da exposição de conflitos sociais e pendências
políticas. Numa perspectiva brasileira pode-se citar ainda os hôxwas — figuras
cômicas ancestrais pertencentes ao povo Krahô — que, segundo a pesquisadora Ana
Carolina Fialho de Abreu, são conhecidos por rirem muito.
O povo krahô tem, entre suas tarefas cotidianas, a
caça, o plantio e o riso. Eles consideram que a alegria é um elemento base de
sua sociedade e os hôxwas, para cumprirem essa tarefa, usam a força do riso, da
doçura e do escárnio. Dentre suas funções, instauram o avesso, falam o que os
outros calam, ensinam o certo ao agir de forma errada, desmistificam o erro,
fortalecem a autoestima e unem o grupo através da alegria, do abraço e da
conversa, garantindo a sobrevivência de sua cultura milenar.
O riso e a saúde física e mental: Um dos primeiros
sentidos do riso se revela nos efeitos diretos para a saúde e é suficientemente
documentado em diferentes pesquisas:
. A Sociedade Espanhola de Neurologia apontou, por
exemplo, que as pessoas que riem com frequência têm 40% menos problemas
vasculares e vivem em média mais 4 anos e meio.
. Em uma pesquisa publicada pela Biblioteca
Nacional de Medicina, também nos Estados Unidos, foi constatada a redução da
ansiedade, depressão e estresse como efeitos diretos de terapias do riso.
. Além de liberar a tensão muscular e fortalecer o
sistema imunológico, uma reportagem da revista espanhola Ethic relatou que o
riso estimula ondas cerebrais do tipo alfa - produzidas quando criamos,
meditamos ou dormimos.
. O jornalista político americano, autor, professor
e defensor da paz, Norman Cousins, relatou em seu livro "Anatomia De Una
Enfermedad" ou "Anatomia de uma Doença", a observação que fez
sobre os efeitos do riso na luta pela sua própria sobrevivência, inclusive
usando o riso para conseguir dormir. Durante sua trajetória, Norman foi
acometido de uma doença degenerativa denominada espondilite anquilosante, que
ataca a coluna vertebral e a chance de sobrevivência era de apenas 1 em 500. Em
vez de ficar no hospital esperando para virar estatística, ele resolveu sair e
se hospedar num hotel das redondezas, com autorização dos médicos. Sob os
atentos olhos de uma enfermeira, com quase todo o corpo paralisado, Cousins
reunia os amigos para assistir a programas de "pegadinhas" e seriados
cômicos na TV. Ele relatou que dez minutos de risada aliviaram as intensas
dores que sofria. Os efeitos do riso beneficiaram seu sono, sua alimentação e
prolongaram sua sobrevida.
Aline
Moreno é palhaça, atriz, professora, mãe, fundadora e diretora Executiva dos
Palhaços Sem Fronteiras Brasil.
Disponível
em: https://www.uol.com.br/ecoa/colunas/opiniao/2023/11/05/rir-e-uma-ponte-para-a-autoestima-seguranca-e-esperanca-diz-palhaca.htm.
Adaptado. Acesso em 7.dez.2023.
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