A presença digital
de crianças na internet têm se tornado cada vez mais comum, em atividades que
vão além dos atores mirins. Gravar vídeos pode ser uma brincadeira, uma forma
de passar o tempo, de fazer atividades durante a quarentena imposta pelo novo
coronavírus, mas também pode se configurar como trabalho infantil.
Especialistas apontam que quando há obrigação em gravar vídeos, exposição da
intimidade da criança e recebimento de produtos enviados por marcas há relação
trabalhista. O trabalho artístico é permitido para menores de 16 anos apenas
com autorização judicial, o que não é uma realidade entre os pequenos youtubers
e influenciadores digitais mirins. Também é recomendado o acompanhamento
psicológico.
A linha que divide
o trabalho da diversão parece tênue, mas é fácil de identificar. A
“profissionalização” ocorre quando há vídeos disponibilizados em plataformas
digitais nos quais crianças e adolescentes aparecem em desafios, novelinhas,
vida cotidiana, desembrulhando “presentes”, com cenários geralmente domésticos
ou coloridos, milhares de seguidores, regularidade de vídeos postados nos quais
são observadas práticas publicitárias. (...) O crescimento dos meios digitais,
no entanto, fez com que cada criança e adolescente com acesso à rede fosse
transformado em potencial provedor de conteúdo digital. “Quando pensamos em
democratização da visibilidade de pessoas de diversas regiões do país e de
diferentes estratos sociais isso é importante. Mas o problema é que de espaço
para compartilhar vídeos, o YouTube se tornou negócio que aluga local para
publicidade de produtos e serviços, com eficiente e intensa coleta de dados
pessoais e formatação de comportamentos”, aponta Sandra Regina Cavalcante.
A fronteira não
delimitada entre diversão e trabalho, no entanto, vem despertando a preocupação
de pais, especialistas e autoridades. Isso porque os adolescentes passam horas
do dia programando jogos que geram rendimentos para a Roblox — mas pouco, ou
mesmo nada, para eles. "Se tem uma regularidade de produção, existe a
possibilidade de ser considerado um trabalho infantil", avalia Adriana
Orsini, professora da faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais (UFMG). Por causa dessa suspeita, a badalada corporação, avaliada em US$
26 bilhões (R$ 147 bilhões), entrou na mira do MPT-SP (Ministério Público do
Trabalho em São Paulo). O órgão conduz um inquérito civil para investigar
denúncias de trabalho infantil na plataforma. Hoje, 58% do público da Roblox
tem até 16 anos, segundo dados da própria empresa. No próximo dia 17 de
outubro, uma audiência na sede do MPT vai ouvir representantes da companhia no
Brasil. Avatares com aparência de bonequinhos de lego e cenários com aspecto de
blocos de brinquedo são atrativos para o público de pouca idade. Mas os grandes
diferenciais são as ferramentas disponibilizadas pela plataforma para a
programação de jogos e a possibilidade de retorno financeiro. Ou seja, o
usuário pode não apenas jogar, mas também criar - e até ser "pago"
por isso.
A Roblox não só
incentiva a monetização das experiências, como lista estratégias para que isso
aconteça. Criar produtos especiais, como uma espada poderosa ou um tênis
voador, é uma delas. Outra tática é cobrar dos jogadores para liberar o acesso
a ambientes restritos nos jogos. Tudo isso pode ser pago em robux, uma moeda
virtual criada pela plataforma. "Mais de 5 milhões de desenvolvedores e
criadores ganharam robux", diz um relatório oficial da empresa sobre as
operações de 2023. O robux até pode ser trocado por dinheiro de verdade, mas
isso é para poucos. Apesar de alegar ter 80 milhões de usuários, somente 16,5
mil foram remunerados até o momento, segundo a empresa. É sobre essa
expectativa de pagamento para crianças que recaem as suspeitas do MPT.
"Crianças e
adolescentes, na esperança de obtenção de lucros com a aquisição da moeda
virtual do jogo e sua posterior conversão em dinheiro real, desempenham a
atividade de desenvolvimento de novos jogos no âmbito da plataforma da
empresa", diz um parecer da Coordinfância (Coordenadoria Nacional de
Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente), uma comissão
especial do próprio MPT.
HARARI, Isabel. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2024/10/11/roblox-desafia-fronteira-entre-jogo-e-trabalho-infantil-e-vira-alvo-do-mpt.htm.
Acesso em 11.out.2024.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: A partir da leitura dos textos motivadores
seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa
sobre o tema: “O debate em torno das fronteiras
entre joguinhos online e trabalho infantil na produção de conteúdos digitais”. Apresente proposta de intervenção,
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente
e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.