Após a Segunda Guerra Mundial, multiplicaram-se as
pesquisas sobre o estresse pós-traumático e o luto. Pois é possível que a
pandemia do novo coronavírus produza uma nova leva de estudos sobre esses temas,
além de provocar uma grande mudança social, na medida em que o rompimento de
vínculos humanos ganhou atenção.
Mas, afinal, o que é o luto?
Segundo John Bowlby, teórica da Psicologia, o
luto é um processo natural que ocorre em reação a um rompimento de vínculo. O processo
de luto abarca situações relacionadas ao contexto de perda em geral – seja o
falecimento de um ente querido (com a consequente mudança de um papel social)
ou a perda de uma possibilidade de futuro. É a sensação de que “algo nos foi
tirado”, algo que era tão nosso, que não deveria ter sido tomado de nós. (...) Um
levantamento recente sobre o tema aponta que o isolamento dos doentes e a
impossibilidade de realizar os rituais pós-morte específicos a cada cultura
causam impacto negativo no processo de luto de uma comunidade. Ainda não temos
estudos robustos sobre o real efeito do novo coronavírus nesse quesito e no
chamado luto complicado (quando esse processo se torna um problema de saúde), mas
algumas pesquisas sugerem um aumento na intensidade e no prolongamento dos
sintomas vivenciados pelo luto. Não dizemos adeus da mesma forma que antes. Não
podemos oferecer o amparo presencialmente. (...) Como familiares, a sensação de
impotência é devastadora. Aos profissionais de saúde, cabe o desafio de
viabilizar a manutenção da saúde mental e a dignidade dos pacientes e
familiares ao criar estratégias para o contato remoto por meio de chamadas de
vídeo ou áudio, cartas… A inovação e a humanização também são ferramentas do
cuidar. (...) Os rituais fúnebres desempenham um papel importantíssimo nesse
contexto, com todas as suas variabilidades sociais, históricas e culturais. Com
as diretrizes mundiais para evitar a contaminação nesse momento — e entre os
trabalhadores dos diferentes serviços funerários — mais uma vez somos
desafiados a nos reinventar. Podemos, por exemplo, garantir que os rituais de
despedidas sejam mantidos por meios remotos de encontro e comunicação. (...) E
não devemos nos esquecer que o processo do morrer interfere no enfrentamento do
luto. Uma morte em meio à restrição de recursos terapêuticos, com sofrimento —
o que pode acontecer em regiões onde há perda do controle do coronavírus — é
mais difícil de processar.
O Ministério da
Saúde informou que o Brasil alcançou no último dia 28-3-2023 a marca de 700 mil
mortes por Covid-19. O registro acontece por volta de um ano e cinco meses após
superar os 600 mil óbitos em virtude da doença.
https://istoe.com.br/brasil-atinge-marca-de-700-mil-mortes-por-covid-19-2/.
Acesso em 29.mar.2023.
Texto III
Muitas vezes me perguntaram se, com tantas perdas
Brasil afora, nós estaríamos experimentando um luto coletivo. Sempre achei que
não: estamos sim, coletivamente em luto, mas é diferente. Luto coletivo não me
parece ser quando muitos de nós lamentamos nossas mortes ao mesmo tempo, e sim
quando todos compartilham uma dor em comum.
Talvez seja isso que tenha ocorrido com a morte do
Paulo Gustavo. Com sua simpatia, ele cativava o país inteiro. (...) Sua morte
aglutina, de alguma maneira, todas as outras, nos levando, agora sim, a um luto
coletivo: todos juntos lamentando a mesma perda. (...)
Não há fórmulas para lidar com o luto. Mas, além de
lamentarmos sua partida, é importante que celebremos toda alegria que ele nos
trouxe. É a melhor maneira de honrarmos sua história.
BARROS, Daniel Martins de.
Disponível em: https://www.terra.com.br/diversao/cinema/morte-de-paulo-gustavo-simboliza-o-sofrimento-de-um-pais-inteiro,613ab6cc35792ecd0edb0e0e5d23d330ba3gqvao.html.
Acesso em 6.jul.2022.
PROPOSTA DE
REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos
ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma
padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “Caminhos para o enfrentamento e a aceitação do
luto na contemporaneidade.” Apresente a proposta de intervenção social que
respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira
coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.