A desertificação é
um desafio ambiental grave que afeta cerca de 13% do semiárido brasileiro (9
estados do Nordeste e cidades do Norte de Minas), conforme estimativas do
Laboratório de Análise e Processamento de Imagens e Satélites (Lapis) - considerando
uma área total de 982.563,3 km2 dessa região, 126.336 km2 estão se transformando em deserto - conforme monitoramento realizado entre 2013 e 2017. Isso compromete a
produtividade do solo e a qualidade de vida das populações locais. A
desertificação ocorre quando áreas naturalmente suscetíveis à seca, são
submetidas a práticas insustentáveis, como o desmatamento e a agricultura
predatória, levando à degradação da terra e à perda de sua capacidade
produtiva.
Entretanto a desertificação pode ser revertida - isso demanda, em especial, vontade política. É preciso implementar técnicas de manejo sustentável do
solo e da água, como a agricultura de conservação, que tem se mostrado eficaz
na recuperação de áreas degradadas. A introdução de sistemas agroflorestais,
que integram o cultivo agrícola com a preservação de espécies arbóreas nativas,
é outra estratégia promissora, que, conforme estudos recentes, pode aumentar em
até 30% a retenção de água no solo, comparado a práticas convencionais de
monocultura.
Além disso, a
construção de cisternas e outras técnicas de captação de água de chuva têm sido
fundamentais para assegurar o abastecimento hídrico em regiões áridas,
beneficiando diretamente mais de 1 milhão de famílias nordestinas. Ações de
reflorestamento e educação ambiental são também indispensáveis
para garantir a sustentabilidade a longo prazo. Políticas públicas efetivas e a
cooperação entre os diversos setores da sociedade são chave para reverter a
desertificação e promover o desenvolvimento sustentável do Nordeste.
Gislaine Buosi
Texto II
O fenômeno natural
das secas no nordeste ensejou o surgimento de um fenômeno político denominado
“indústria da seca”. Os grandes latifundiários nordestinos, valendo-se de seus
aliados políticos, interferem nas decisões tomadas, em escala federal, estadual
e municipal. Beneficiam-se dos investimentos realizados e dos créditos
bancários concedidos. Não raro aplicam os financiamentos obtidos em outros
setores que não o agrícola, e aproveitam-se da divulgação dramática das secas
para não pagarem as dívidas contraídas. Os grupos dominantes têm saído
fortalecidos, enquanto é protelada a busca de soluções para os problemas
sociais e de oferta de trabalho às populações pobres. Os trabalhadores sem
terra (assalariados, parceiros, arrendatários, ocupantes) são os mais
vulneráveis à seca, porque são os primeiros a serem despedidos ou a terem os
acordos desfeitos.
A indústria da
seca tem sido combatida em duas frentes: a primeira é liderada pelo Ministério
Público (MP), que processa prefeitos e outros políticos e gestores públicos por
desvio de recursos emergenciais, o que resulta em mandatos cassados pela
Justiça; a segunda frente é a Ciência. Desde a intensa seca de 2012 e, pela
primeira vez de forma sistemática, as ações de mitigação dos governos federal e
estaduais foram guiadas pela melhor informação científica fornecida por
organizações de pesquisa federais e estaduais, como o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE), o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de
Desastres Naturais (Cemaden), a área de pesquisa da Agência Nacional das Águas
(ANA), entre muitas outras. Estas ações canalizam recursos de mitigação para as
áreas criticamente atingidas em ações focalizadas como transferência de renda,
fornecimento de água e apoio à agricultura de subsistência. Estes programas
custaram mais de R$ 40 bilhões aos cofres públicos de 2012 até hoje, mas
criaram a necessária rede de proteção social para mais de 10 milhões de
habitantes rurais e urbanos em todo Nordeste.
Disponível em: https://pt-static.z-dn.net/files/d03/5b90908cd661031413c38558695e4026.jpg.
Acesso em 12.abr.2024.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir do material de apoio e com base nos
conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto
dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
“O enfrentamento à desertificação no Nordeste brasileiro”. Apresente
proposta de intervenção social que respeite os Direitos Humanos. Selecione,
organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para
defesa de seu ponto de vista.