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FAMERP 2021 - PUBLICAÇÃO DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
FAMERP
FAMERP 2021
Publicação na internet de casos de violência
contra a mulher
ID: GKE
Texto 1
A palavra “exposed”, termo em inglês para
“exposto” ou “exposta”, tem sido usada como definição de um dos mais recentes
fenômenos do universo digital: a revelação de um fato criminoso ou questionável
e de seu respectivo autor em plataformas digitais.
Contudo, cabem muitas ressalvas a essa
conduta, como o fato de parte das páginas responsáveis por essas exposições não
terem uma autoria clara. Além disso, Cíntia Rosa Pereira de Lima, professora da
Faculdade de Direito de Ribeirão Preto da USP, aborda os riscos de se expor uma
situação que não poderá ser comprovada, caso a questão vá para os tribunais.
Segundo a professora, “o autor de um ‘exposed’ pode responder pelo crime de
calúnia, quando o conteúdo imputar conduta criminosa a outrem, se o autor não
conseguir provar a verdade dos fatos alegados”.
Raphael Bispo, professor de Antropologia da
Universidade Federal de Juiz de Fora, acrescenta que essas exposições se dão
num contexto imediatista das redes sociais, em que apenas o “sim” ou o “não”
têm vez. “Cria-se uma intensa rede de ódio, e os argumentos perdem os matizes e
as nuances”, diz. “Já se pressupõe a culpa do outro, ignorando o direito de
defesa. Isso é muito negativo, visto que há um processo pelo qual a pessoa tem
que passar”.
Por outro lado, se forem feitas ponderações,
como a importância de relatar um episódio sem divulgar a identificação do
autor, Ana Lara Camargo de Castro, promotora de Justiça do Ministério Público
do Mato Grosso do Sul, enxerga o “exposed” como algo a ser “assimilado e
lapidado nos excessos”. Na opinião dela, se bem manejada, a prática pode
alavancar o aprimoramento da legislação brasileira e auxiliar na promoção de
novos arranjos sobre o que é ou não tolerável em sociedade.
Eduardo Vanini. “Depois da lacração e do
cancelamento, ‘exposed’ é a moda da vez nas redes”.
https://oglobo.globo.com, 09.07.2020. Adaptado.
Texto 2
Mulheres de todo país têm usado as redes
sociais para denunciar violências sexuais e de gênero com a hashtag “exposed”
seguida do nome da cidade em que vivem. Há relatos de estupro, assédio sexual e
importunação sexual, entre outras denúncias de violências às quais elas foram
submetidas. Segundo especialistas, uma ação conjunta como essa pode motivar que
a mulher faça uma denúncia formal. Além disso, por permitir que sejam vistas
outras pessoas que passaram pelo mesmo problema e motivar mensagens de apoio, a
atitude de expor a situação pode ajudar a vítima a começar a trilhar o caminho
para superar o trauma.
A advogada Andressa Cardoso vê vários pontos
positivos nas postagens coletivas. “Esse movimento de denúncia nas redes
sociais é muito importante. Alguns profissionais do direito falam para a vítima
não se expor, mas não concordo. Percebo que isso cria uma mobilização, a pessoa
encontra uma rede de apoio que ajuda no enfrentamento à violência. O rompimento
do silêncio em si é importante porque é uma dor forte e intensa que essas
pessoas vivem”, diz.
Andressa também acredita que os relatos
públicos podem surtir resultados práticos. “Algumas denúncias que vão para a
mídia recebem um andamento mais rápido nas delegacias porque há pressão
popular, as pessoas começam a falar sobre o fato. Além disso, há relatos que
podem gerar uma ação penal pública incondicionada por parte do Ministério
Público, ou seja, casos que não dependem da denúncia formal da vítima para que
seja aberta uma investigação”, explica a advogada.
Contudo, a vítima deve evitar publicar nomes,
dados pessoais do agressor ou informações que possam identificá-lo. Mailô
Andrade, advogada do Instituto Maria da Penha e doutoranda em direito penal
pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) pondera que “essa é a
primeira orientação para proteger a sobrevivente de violência. Se postar com
nome, muito provavelmente vai sofrer processo tanto criminal quanto cível, que
são meios usados para silenciá-la.
Camila Brandalise. “Exposed: como denunciar casos
de abuso e assédio nas redes com segurança”.
www.uol.com.br, 07.06.2020. Adaptado.
Com base nos textos apresentados e em seus
próprios conhecimentos, escreva um texto dissertativo-argumentativo, empregando
a norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema: Publicação na internet de
casos de violência contra a mulher: entre o incentivo à denúncia e a exposição
do acusado.