EM - DISSERTAÇÃO - MODELO UNIMONTES - ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA
PAES - UNIMONTES
ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA
DISSERTAÇÃO MODELO UNIMONTES 2025
ID: JP7
Texto 1
“O gerente queria trazer
gente que ‘trabalhe muito’ e que ‘não tenha medo de trabalho’, nas palavras de
meu pai, ‘para dar seu suor na plantação’. Podia construir casa de barro, nada
de alvenaria, nada que demarcasse o tempo de presença das famílias na terra.
Podia colocar roça pequena para ter abóbora, feijão, quiabo, nada que desviasse
da necessidade de trabalhar para o dono da fazenda, afinal, era para isso que
se permitia a morada. Podia trazer mulher e filhos, melhor assim, porque quando
eles crescessem substituiriam os mais velhos. [...] Vi meu pai dizer para meu
tio que no tempo de seus avós era pior, não podia ter roça, não havia casa, todos se amontoavam no
mesmo espaço, no mesmo barracão.”
“Quando deram a liberdade
aos negros, nosso abandono continuou. O povo vagou de terra em terra pedindo
abrigo, passando fome, se sujeitando a trabalhar por nada. Se sujeitando a
trabalhar por morada. A mesma escravidão de antes fantasiada de liberdade. Mas
que liberdade? Não podíamos construir casa de alvenaria, não podíamos botar a
roça que queríamos. Levavam o que podiam do nosso trabalho. Trabalhávamos de
domingo a domingo sem receber um centavo.”
Fragmentos recolhidos de Torto
Arado, de Itamar Vieira Junior, 2019.
Texto 2
Durante o período da ditadura
civil-militar, não foram poucos os conglomerados, nacionais e estrangeiros,
que, com apoio – inclusive financeiro – do governo federal, promoveram a
derrubada da floresta, a formação de latifúndios e toda a sorte de danos
ambientais e sociais na Amazônia brasileira, com a exploração indiscriminada de
trabalhadores escravizados. À época, já se enunciava uma suposta contradição:
empresas que investiam e desenvolviam tecnologia avançada em sua produção, como
a Volkswagen, utilizavam-se de trabalho escravo para, de maneira rudimentar,
promover a derrubada da floresta e o preparo de pastagens, numa imbricada
relação entre capitalismo e escravidão, o “moderno” e o “arcaico”. Em que pese
a coragem daqueles que fizeram as primeiras denúncias durante a ditadura
militar, foi somente após a redemocratização e passados alguns anos desde a
promulgação da Constituição Federal de 1988 que, em 1995, o então Presidente
Fernando Henrique Cardoso, em pronunciamento à nação transmitido pelo rádio,
reconhece formalmente a existência de trabalho escravo contemporâneo no
território brasileiro e dá início às primeiras iniciativas de combate a esse
ilícito de maneira organizada pelo Estado. Além do reconhecimento pioneiro da
escravidão em território nacional, o pronunciamento anunciava, ainda, a
primeira importante medida de combate ao trabalho escravo: a criação do Grupo
Interministerial para Erradicação do Trabalho Forçado (GERTRAF), prevendo a
realização periódica de ações fiscais envolvendo agentes do Estado com o fito de
atender às denúncias de trabalho escravo. Entre as razões que
motivaram essa mudança de postura do Estado brasileiro, está o emblemático caso
José Pereira. No ano de 1989, José Pereira junto com outro trabalhador, de
apelido Paraná, tentou fugir de uma Fazenda localizada no município de
Sapucaia, no sul do Pará onde eram escravizados, junto de outros 60
trabalhadores. Ambos foram interceptados por capangas armados que atiraram
contra eles. Paraná foi morto, José Pereira levou um tiro no pescoço, pelas costas,
atingindo a região próximo a seu olho, fingiu-se de morto para em seguida pedir
socorro em uma Fazenda próxima.
Recolhido de: TRABALHO
ESCRAVO CONTEMPORÂNEO: HOJE, O MESMO DE ONTEM
SOBRE OS AUTORES
Tiago Muniz
Cavalcanti: Doutor em Direito
pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Recife/PE, Brasil, com período
de pesquisa no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (UC),
Portugal. Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
(PUC-SP), São Paulo/SP, Brasil. Especialista em Direito e Processo do Trabalho
pela Faculdade de Boa Viagem, Recife/PE, Brasil. Membro da Academia
Pernambucana de Direito do Trabalho (APDT), Recife/PE, Brasil. Procurador do
Ministério Público do Trabalho (MPT), Recife/PE, Brasil.
Rafael Garcia
Rodrigues: Doutorando em
Direito das Relações Sociais no Programa de Pós-Graduação em Direito da
Universidade Federal do Paraná (PPGD/UFPR), Curitiba/PR, Brasil. Mestre em
Direito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Rio de
Janeiro/RJ, Brasil. Procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT),
Curitiba/PR, Brasil.
Disponível em:
https://www.scielo.br/j/vd/a/Z7SBdtrRmT8Gvdt8dzr4dLz/#ModalTutors. Acesso em
1.dez.2024.
PROPOSTA DE
REDAÇÃO: A partir da
leitura dos textos, elabore, em 20 linhas, uma redação
dissertativo-argumentativa. Sua redação deve apresentar um ponto de vista por
meio de argumentos, isto é, uma tese (introdução), um desenvolvimento
argumentativo que comprove a tese, e uma conclusão em síntese, com estilo de
língua formal adequado a essa escrita e que atenda à seguinte temática: Qual deverá ser a
função da escola como instituição que pode ganhar dimensões profundamente
significantes de formação da cidadania para as gerações futuras, diante da
escravidão contemporânea, sobretudo considerando-se o fato de que a meritocracia*
tem sido apregoada em diversos segmentos da elite brasileira?
* A meritocracia pressupõe
que o talento e o esforço pessoal sejam os únicos determinantes para o sucesso
do indivíduo – isso porque, como argumentam os defensores, a meritocracia é um
mecanismo justo, que incentiva a competição saudável e premia o competidor mais
bem sucedido.