Aquele café gourmet que abriu perto da sua casa pode ser um sinal. O prédio de alto padrão na rua ao lado, as novidades gastronômicas (...), tudo indica que o seu bairro está sendo valorizado. Agora sim! Bem, mas nada disso é para você. A não ser que esteja disposto a arcar com os elevados custos dessa transformação, é bom começar a procurar outro lugar para viver. Ninguém quer morar em lugar feio ou longe daquilo que lhe é mais prático. Melhorias são sempre bem-vindas, mas (...) quando os benefícios chegam, até o preço do pãozinho fica diferenciado. E aí a supervalorização bate na porta de casa avisando que o aluguel será reajustado. Quem ali já estava, muitas vezes, não consegue mais sustentar esse padrão de vida que foi imposto. Ironicamente, acaba tendo que se mudar para outra região, possivelmente com mais carências. E então: as melhorias foram para quem?
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Texto III
A gentrificação é um fenômeno de transformação urbana que promove a elitização de um espaço, por meio da alteração da composição social de uma região ou bairro. No processo de valorização desse espaço — ou na implementação de grandes projetos urbanos — é natural ocorrerem alterações no ambiente: os mais comuns são o aumento nos custos de bens e serviços e a mudança na composição populacional da região, afetando especialmente pessoas de baixa renda. A gentrificação é consequência de uma ação pública ou privada (ou em parceria) que modifica a cara de um lugar (...), e está presente toda vez que se anuncia um grande projeto urbano, na construção de novos edifícios ou na chegada de novos pontos comerciais e, consequentemente, de novos moradores em determinada região. Mais do que um processo, gentrificação é uma consequência, com efeitos diretos em toda a cidade, em especial entre a população mais pobre. (...) A gentrificação pode acontecer não só nos assentamentos precários, geralmente informais, em espaços onde o Estado tem interesse em colocar em prática algum projeto urbano, mas também em bairros antigos que estejam deteriorados, empobrecidos. (...) Todo mundo, de alguma maneira, é afetado pela gentrificação. "Os projetos são localizados, parece que é só ali que estão acontecendo as coisas, mas a cidade toda é articulada", observa Eulalia Portela Negrelos, professora-doutora na área de Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo do IAU - Instituto de Arquitetura e Urbanismo, da USP. Para os pobres, no entanto, as consequências são mais dramáticas, porque a valorização imobiliária intensifica a gentrificação, "expulsando-os" para localidades menos valorizadas.
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Texto IV
Quando pessoas de renda mais alta começam a se mudar para bairros de renda mais baixa, como isso afeta moradores de longa data? Três estudos apontaram para uma resposta que é diferente da mais usual. Primeiramente, um estudo do Furman Center, da NYU, sugere que moradores de habitação social em bairros ricos e com processos de gentrificação têm rendas maiores, convivem com menos violência e têm melhor oportunidades educacionais para suas crianças, apesar de encararem alguns desafios. Além disso, um estudo do Philadelphia Federal Reserve Bank aponta que há menos deslocamento de residentes locais em bairros gentrificantes do que geralmente é temido — e aqueles que saem não necessariamente tendem a se mudar para bairros de menor renda. E, finalmente, um estudo da Columbia University sobre gentrificação em Londres também falhou em encontrar evidências de mudanças em massa de bairros cuja renda vem aumentando. Juntos, estes estudos sugerem que, apesar da gentrificação poder causar discórdia social e deixar os moradores ansiosos sobre seus futuros, ela não produz uma saída significativa de moradores dos bairros nem faz com que eles fiquem economicamente menos favorecidos.