EM - DISSERTAÇÃO - MODELO UERJ - SOLIDÃO - A PARTIR DE "NÃO ME ABANDONE JAMAIS"
UERJ
SOLIDÃO
DISSERTAÇÃO MODELO UERJ
a partir da obra literária “NÃO
ME ABANDONE JAMAIS”, de Kazuo Ishiguro
ID: GWA
A Universidade Estadual do Rio de Janeiro selecionou a obra “Não me
abandone jamais”, de Kazuo Ishiguro, obra vencedora do prêmio Nobel de
Literatura em 2017, como base para o tema da Redação.
Sinopse: Kathy, Tommy e Ruth são clones criados para doar órgãos. Tendo
esse cenário de ficção científica por pano de fundo, e o triângulo amoroso como
gancho, Kazuo Ishiguro fala de perda, de solidão e da sensação que às vezes
temos de já ser "tarde demais". Finalista do Man Booker Prize 2005.
Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de
"cuidadora". Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham,
um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta,
entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma
horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico
esconde uma terrível verdade: todos os "alunos" de Hailsham são
clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição.
Assim que atingem a idade adulta, e depois de cumprido um período como
cuidadores, todos têm o mesmo destino - doar seus órgãos até
"concluir". Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da
ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses "doadores",
em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Pela voz ingênua
e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno pantanoso da solidão e da
desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a atolar.
Naquele tempo, eu tinha uma brincadeira secreta.
Sempre que me flagrava sozinha, parava e procurava uma vista — do outro lado de
uma janela, por exemplo, ou através da fresta de uma porta — onde não houvesse
viva alma. O objetivo era ter, ao menos durante uns poucos segundos, a ilusão
de que eu não vivia num lugar superlotado, que Hailsham era uma casa pacata,
serena, onde eu morava com somente cinco ou seis alunos além de mim. Para que a
coisa funcionasse, era preciso entrar numa espécie de sonho e eliminar da
cabeça todos os barulhos e vozes. Em geral também era preciso uma paciência de
Jó: se por exemplo eu estivesse focalizando determinado trecho do campo de
esportes, muitas vezes era necessário esperar séculos na janela por aqueles
dois ou três segundinhos durante os quais todo mundo desaparecia do
enquadramento. (...) E tem também a solidão. Você cresce com bandos de gente em
volta, é só o que conhece da vida, e, de repente, vira cuidador. Passa horas e
horas em solidão completa, dirigindo pelo país inteiro, de centro em centro, de
hospital em hospital, dormindo em pernoites, sem ninguém com quem desabafar, descarregar
as preocupações, ninguém para dividir uma risada. Muito de vez em quando, cruza
com algum antigo aluno — cuidador ou doador, que você reconhece de outros
tempos —, mas nunca há tempo suficiente. Você vive com pressa, ou em estado de
quase exaustão, sem condições para manter um bom papo. Não demora e o excesso
de horas trabalhadas, as constantes viagens e o sono irregular se tornam parte
integrante da sua pessoa, sempre evidente, para todo mundo ver, na postura, no
olhar, no jeito como você fala, na forma como se move.
Kazuo Ishiguro
Não me abandone jamais. São
Paulo: Companhia das Letras, 2016.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: Com base na leitura do romance
“Não me abandone jamais” e em suas próprias reflexões, escreva uma redação
argumentativo-dissertativa, em prosa, com 20 a 30 linhas, sobre o seguinte
tema: “A solidão contemporânea – escolha pessoal do sujeito ou adoecimento
social?”