EM - DISSERTAÇÃO - MODELO UERJ - MATERNIDADE COMPULSÓRIA - A PARTIR DE "NÃO ME ABANDONE JAMAIS"
UERJ
MATERNIDADE COMPULSÓRIA
DISSERTAÇÃO MODELO UERJ
a partir da obra literária “NÃO
ME ABANDONE JAMAIS”, de Kazuo Ishiguro
ID: GWQ
A Universidade Estadual do Rio de Janeiro selecionou a obra “Não me
abandone jamais”, de Kazuo Ishiguro, obra vencedora do prêmio Nobel de
Literatura em 2017, como base para o tema da Redação.
Sinopse da obra: Kathy, Tommy e Ruth são clones criados para doar órgãos. Tendo
esse cenário de ficção científica por pano de fundo, e o triângulo amoroso como
gancho, Kazuo Ishiguro fala de perda, de solidão e da sensação de que às vezes
temos de já ser "tarde demais". (...) Kathy H. tem 31 anos e está
prestes a encerrar sua carreira de "cuidadora". Enquanto isso, ela
relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande
ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com
bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente
aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos
os "alunos" de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade
de servir de peças de reposição. Assim que atingem a idade adulta, e depois
de cumprido um período como cuidadores, todos têm o mesmo destino - doar seus
órgãos até "concluir" (morrer). Embora à primeira vista pareça pertencer ao
terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses
"doadores", em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da
existência. Pela voz ingênua e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno
pantanoso da solidão e da desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a
atolar.
A maternidade compulsória consiste no conjunto de práticas
socioculturais e políticas que levam as mulheres a se tornarem ou desejarem ser
mães, sem que isso represente de fato uma escolha delas. A forma como nos
organizamos em sociedade, enquanto famílias nucleares, é baseada no modelo em
que mulheres se tornam mães (ou pelo menos maternam) em algum momento da vida.
Isso faz com que a maternidade seja socialmente valorizada, contando com
aprovação social — diferente do que ocorre com a não-maternidade. Ser mãe,
muitas vezes, é suficiente para validar o que uma mulher constrói enquanto
projeto de vida. Longe de significar que a maternidade seja uma vivência
apaziguada, ter filhos, especialmente biológicos, é encarado por boa parte das
pessoas como realização (social), um ato valoroso, capaz de se bastar em si
mesmo. A socialização feminina é fortemente marcada pelo maternalismo. O
próprio debater a maternidade é, de muitas formas, imposto às mulheres.
Desde pequenas, meninas recebem carrinhos de
bebê e bonecas para "brincarem de ser mamães", cujas brincadeiras têm
profunda relação com o espaço doméstico. Assim, mulheres crescem aprendendo a
vincular o cuidado das crianças à casa e ao papel de mãe. Já os meninos não
costumam ser socializados dessa forma. Por consequência, crescem sem se
enxergarem enquanto as figuras responsáveis por zelar e oferecer carinho aos
membros da família, sobretudo os mais fragilizados (em geral, idosos e
infantes).
SOUZA, Ana Luiza
Figueiredo. Disponível em: https://www.analuizadefigueiredosouza.com.br/post/maternidade-compuls%C3%B3ria-defini%C3%A7%C3%A3o-e-problematiza%C3%A7%C3%B5es.
Adaptado.
Acesso em 28.jul.2022.
Mais ou
menos nessa época, aconteceu um fato curioso que acho conveniente mencionar
aqui. (...) Foi uma daquelas vezes em que peguei um travesseiro para fazer de
bebê e fiquei rodopiando num bailado lento, de olhos fechados, acompanhando
baixinho a letra toda vez que o refrão dizia: “Oh, baby, baby, não me abandone
jamais...” A música já estava quase no fim quando alguma coisa me fez perceber
que havia mais gente no quarto. Abri os olhos e me vi diante de Madame (...). E
o esquisito é que ela chorava. É possível até que eu tenha despertado dos meus
devaneios por causa dos soluços dela se infiltrando na música. (...) Àquela
altura, claro, todos nós já tomáramos conhecimento de um fato que eu ignorava:
que nenhum de nós poderia ter filhos. (...) “Madame provavelmente não é má
pessoa – é um pouco macabra, quem sabe?, mas não má. Por isso, quando viu você
dançando daquele jeito, segurando [um travesseiro, como se fosse] seu bebê,
deve ter achado muito trágico você não poder ter filhos. Foi por isso que ela
começou a chorar.” (...) O que havia de tão especial [naquela música]? Bem, o
fato é que (...) ficava só esperando aquele trecho que dizia: “Baby, baby, não
me abandone jamais...”. E o que eu imaginava era uma mulher que não podia ter
filhos, mas que queria muito ser mãe, que sempre quisera ser mãe, a vida toda.
Aí então ocorre um milagre qualquer, ela tem o filho e sai cantando, com ele
agarrado no colo: “Baby, não me abandone jamais...”, em parte porque se sente
muito feliz, em parte porque tem medo de que algo aconteça, que seu bebê fique
doente ou seja levado embora, por exemplo. (...)
Kazuo Ishiguro
Não me abandone jamais. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.
Adaptado.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: A partir da leitura do romance “Não me abandone jamais” e em suas
próprias reflexões, escreva uma redação argumentativo-dissertativa, em prosa,
com 20 a 30 linhas, sobre o seguinte tema: “Maternidade - ideal da mulher ou instituição social compulsória?