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EM - DISSERTAÇÃO - MODELO UERJ - MATERNIDADE COMPULSÓRIA - A PARTIR DE "NÃO ME ABANDONE JAMAIS"

UERJ

MATERNIDADE COMPULSÓRIA

DISSERTAÇÃO MODELO UERJ

a partir da obra literária “NÃO ME ABANDONE JAMAIS”, de Kazuo Ishiguro

ID: GWQ




A Universidade Estadual do Rio de Janeiro selecionou a obra “Não me abandone jamais”, de Kazuo Ishiguro, obra vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2017, como base para o tema da Redação.






Sinopse da obra: Kathy, Tommy e Ruth são clones criados para doar órgãos. Tendo esse cenário de ficção científica por pano de fundo, e o triângulo amoroso como gancho, Kazuo Ishiguro fala de perda, de solidão e da sensação de que às vezes temos de já ser "tarde demais". (...) Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de "cuidadora". Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto esse internato idílico esconde uma terrível verdade: todos os "alunos" de Hailsham são clones, produzidos com a única finalidade de servir de peças de reposição. Assim que atingem a idade adulta, e depois de cumprido um período como cuidadores, todos têm o mesmo destino - doar seus órgãos até "concluir" (morrer). Embora à primeira vista pareça pertencer ao terreno da ficção científica, o livro de Ishiguro lança mão desses "doadores", em tudo e por tudo idênticos a nós, para falar da existência. Pela voz ingênua e contida de Kathy, somos conduzidos até o terreno pantanoso da solidão e da desilusão onde, vez por outra, nos sentimos prestes a atolar.

LEONARDI, Cláudia. Disponível em: https://www.maeliteratura.com/2017/11/clube-da-leitura-cia-ilimitada-nao-me.html.

Adaptado.

Acesso em 11.jul.2022.




LEITURAS:

A maternidade compulsória consiste no conjunto de práticas socioculturais e políticas que levam as mulheres a se tornarem ou desejarem ser mães, sem que isso represente de fato uma escolha delas. A forma como nos organizamos em sociedade, enquanto famílias nucleares, é baseada no modelo em que mulheres se tornam mães (ou pelo menos maternam) em algum momento da vida. Isso faz com que a maternidade seja socialmente valorizada, contando com aprovação social — diferente do que ocorre com a não-maternidade. Ser mãe, muitas vezes, é suficiente para validar o que uma mulher constrói enquanto projeto de vida. Longe de significar que a maternidade seja uma vivência apaziguada, ter filhos, especialmente biológicos, é encarado por boa parte das pessoas como realização (social), um ato valoroso, capaz de se bastar em si mesmo. A socialização feminina é fortemente marcada pelo maternalismo. O próprio debater a maternidade é, de muitas formas, imposto às mulheres.

Desde pequenas, meninas recebem carrinhos de bebê e bonecas para "brincarem de ser mamães", cujas brincadeiras têm profunda relação com o espaço doméstico. Assim, mulheres crescem aprendendo a vincular o cuidado das crianças à casa e ao papel de mãe. Já os meninos não costumam ser socializados dessa forma. Por consequência, crescem sem se enxergarem enquanto as figuras responsáveis por zelar e oferecer carinho aos membros da família, sobretudo os mais fragilizados (em geral, idosos e infantes).

SOUZA, Ana Luiza Figueiredo. Disponível em: https://www.analuizadefigueiredosouza.com.br/post/maternidade-compuls%C3%B3ria-defini%C3%A7%C3%A3o-e-problematiza%C3%A7%C3%B5es.

Adaptado.

Acesso em 28.jul.2022.



Mais ou menos nessa época, aconteceu um fato curioso que acho conveniente mencionar aqui. (...) Foi uma daquelas vezes em que peguei um travesseiro para fazer de bebê e fiquei rodopiando num bailado lento, de olhos fechados, acompanhando baixinho a letra toda vez que o refrão dizia: “Oh, baby, baby, não me abandone jamais...” A música já estava quase no fim quando alguma coisa me fez perceber que havia mais gente no quarto. Abri os olhos e me vi diante de Madame (...). E o esquisito é que ela chorava. É possível até que eu tenha despertado dos meus devaneios por causa dos soluços dela se infiltrando na música. (...) Àquela altura, claro, todos nós já tomáramos conhecimento de um fato que eu ignorava: que nenhum de nós poderia ter filhos. (...) “Madame provavelmente não é má pessoa – é um pouco macabra, quem sabe?, mas não má. Por isso, quando viu você dançando daquele jeito, segurando [um travesseiro, como se fosse] seu bebê, deve ter achado muito trágico você não poder ter filhos. Foi por isso que ela começou a chorar.” (...) O que havia de tão especial [naquela música]? Bem, o fato é que (...) ficava só esperando aquele trecho que dizia: “Baby, baby, não me abandone jamais...”. E o que eu imaginava era uma mulher que não podia ter filhos, mas que queria muito ser mãe, que sempre quisera ser mãe, a vida toda. Aí então ocorre um milagre qualquer, ela tem o filho e sai cantando, com ele agarrado no colo: “Baby, não me abandone jamais...”, em parte porque se sente muito feliz, em parte porque tem medo de que algo aconteça, que seu bebê fique doente ou seja levado embora, por exemplo. (...)

Kazuo Ishiguro

Não me abandone jamais. São Paulo: Companhia das Letras, 2016.

Adaptado.



PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da leitura do romance “Não me abandone jamais” e em suas próprias reflexões, escreva uma redação argumentativo-dissertativa, em prosa, com 20 a 30 linhas, sobre o seguinte tema: “Maternidade - ideal da mulher ou instituição social compulsória?

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