O Ministério da
Saúde lançou a Portaria nº 2.198/2023 que institui a Estratégia Antirracista
para a Saúde. (...) A política tem como finalidade principal o atendimento
integral às complexidades em saúde próprias da população negra e indígena, bem
como de comunidades como os quilombolas e ciganos. Além de minorias como
migrantes, refugiados e apátridas. Para isso, um plano de ação está em
desenvolvimento, cujas prioridades são: a promoção da saúde integral da mulher
negra; a atenção à saúde materno-infantil, especialmente redução da mortalidade
materna, infantil e fetal; criação de políticas públicas de saúde mental, tendo
como perspectiva as particularidades de cada grupo étnico; a educação em saúde
em uma perspectiva antirracista; a promoção da saúde sexual, baseada na
diversidade; o atendimento integral a pessoas com doença falciforme;a representatividade étnico-racial entre os
colaboradores da pasta; o respeito à diversidade cultural e religiosa, com
integração destas políticas com as manifestações próprias da religiosidade
indígena e de matriz africana. (...) O ministério vai promover ações que vão ao
encontro da estratégia. São elas: ações afirmativas que incentivem a
diversidade étnico-racial entre os colaboradores de todos os níveis;
capacitações das forças de trabalho que compõe a pasta e o SUS; produção e
monitoramento de indicadores raciais nas ações de saúde, com sistematização e
publicação dos impactos; e o direcionamento de recursos para a equalização dos
indicadores de saúde.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2023/dezembro/ministerio-da-saude-lanca-estrategia-antirracista-para-a-area.
Adaptado. Acesso em 2.set.2024.
Texto
II
A Justiça que se
pretende ao tentar reconstruir a sociedade por um novo viés não é apenas a de
saldar a dívida de uma escravidão mal abolida, mas também a de tentar mudar o
pensamento e a ação de uma sociedade que trata as pessoas de forma desigual por
conta da cor de pele. Ir contra a programação que tivemos a vida inteira, por
meio da família, dos amigos, da escola, da mídia (...) é um processo longo,
pelo qual todos nós temos de passar. Mas é necessário. Todos nós, nascidos
neste caldo social, somos potencialmente idiotas – a menos que tenhamos sido
devidamente educados para o contrário.
Disponível em: https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/07/04/como-todos-sabemos-nao-ha-racismo-no-brasil/,
com ajustes.
Texto III
A filósofa Djamila
Ribeiro (...) dá o exemplo do axé music, nascido no Carnaval de Salvador, a
cidade com a população mais negra fora da África. “O axé foi criado por pessoas
negras, que hoje pulam o Carnaval segregadas, do outro lado da corda. As
cantoras de axé que mais fazem sucesso hoje são brancas e loiras”, diz.
O Brasil é a maior
nação negra fora da África, somando 55,5% da população (segundo o Censo de
2022), e mesmo sendo maioria, [os negros] estão fora dos lugares de poder e
experimentam em larga maioria os piores índices de desenvolvimento humano.
Foram quase quatro séculos de escravidão em pouco mais de cinco séculos de
chegada dos colonos. Em 1888 houve a abolição formal, mas nenhuma política de
inclusão das pessoas negras, pelo contrário. Ao passo que foi estimulada a
vinda de imigrantes europeus, que receberam terras e oportunidades, pessoas
negras foram marginalizadas de qualquer contato com o poder econômico e
destinadas a serem base de exploração que, no caso das mulheres negras, se
somam ao patriarcado. Nas palavras de Carla Akotirene, mulheres negras são a
matriz geradora pois parem as vidas que serão a base do sistema. (...) Ao longo
da história, o projeto de miscigenação foi romanceado no país, como
manifestação sublime da democracia racial, pensamento do [sociólogo] Gilberto
Freyre, no sentido de que no Brasil teria havido a transcendência racial com a
convivência harmoniosa entre brancos, negros e indígenas. Ou seja, de acordo
com esse pensamento, não existe racismo no Brasil, apenas desigualdade entre
ricos e pobres. As mulheres negras brasileiras são as mulatas que sambam e
estão sempre disponíveis sexualmente. Trata-se de algo entranhado no pensamento
brasileiro e na organização social do país, algo que os movimentos negros ao
longo de muitas décadas vêm denunciando e combatendo. É uma construção
supremacista histórica e vejo o Brasil exportá-la para o Norte global como se
fosse cana-de-açúcar. Está na escola, nas famílias, no discurso midiático, em
todo lugar. Então muitas pessoas negras não sabem que são negras, não têm
sequer condições materiais para formular algo nesse sentido. Então, o que nos
resta é lutar por políticas públicas, de educação, assistência social e apoiar
projetos políticos nesse sentido. Isso em um sentido coletivo.
Entrevista com a filósofa e ativista Djamila Ribeiro. Disponível em: https://www.dw.com/pt-br/o-racismo-estrutura-a-sociedade-brasileira-est%C3%A1-em-todo-lugar-diz-djamila-ribeiro/a-55719876.
Adaptado. Acesso em 2.set.2024.
Texto V
O racismo, que fere
de morte as mais singelas noções de humanidade, deve ser enfrentado com golpes
certeiros, e isso depende também do reconhecimento e da garantia de direitos
constitucionais. Nesse sentido, o letramento racial envolve a desconstrução de
preconceitos socialmente arraigados, haja vista a valorização eurocêntrica da
pele branca. Se, antes, o assunto era pauta de sala de aula, hoje, o letramento
racial justifica-se até mesmo em ambientes frequentados por pessoas percorreram
grandes jornadas acadêmicas. Exemplo disso aconteceu em 2020, em Curitiba/PR,
quando a juíza de direito Inês Marchalek Zarpelon, numa sentença penal
condenatória, mencionou que o réu era “seguramente integrante do grupo
criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta os delitos
e o seu comportamento, juntamente com os demais, causavam o desassossego e a
desesperança da população, pelo que deve ser valorada negativamente (sic)”. (...)
O fato de a magistrada condenar um réu sob a alegação de que negro tem
potencial para atitudes criminosas gerou repercussão e repúdio nacionais, o que
levou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e outras instituições a se
manifestarem contra o ocorrido.
Gislaine Buosi, advogada e educadora.
PROPOSTA
DE REDAÇÃO: Considerando as ideias apresentadas
nos textos e também outras informações que julgar pertinentes, redija uma
dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o
tema: Políticas antirracistas – o letramento racial como estratégia para o
empoderamento da população negra.