Se lembra da fogueira Se lembra dos balões Se lembra dos luares dos sertões A roupa no varal, feriado nacional E as estrelas salpicadas nas canções Se lembra quando toda modinha falava de amor pois nunca mais cantei, oh maninha Depois que ele chegou Se lembra da jaqueira A fruta no capim Dos sonhos que você contou pra mim Os passos no porão, lembra da assombração (...)
Texto II Não posso fazer Geraldo Viramundo virar homem sem antes falar no rio. Só quem passou a infância junto a um rio pode saber o que o rio significa. Eu, como não passei a minha, não posso saber. Sei só que Geraldo, mal acabava a aula na escola, saía correndo feito doido em direção ao rio, do outro lado da cidade. Às vezes iam com ele alguns companheiros, os irmãos; às vezes ele ia só. Lá chegando, tirava a roupa toda e se atirava n’água, mesmo que estivesse fazendo frio. Quando outros iam com ele, ficavam brincando de se empurrar, de fazer guerra de água, de mergulhar para passar debaixo das pernas uns dos outros ou simplesmente para fazer borbulha. Os mais corajosos conseguiam cruzar a correnteza a nado e atingir a outra margem. Um dia um menino morreu afogado, um pretinho chamado Brejela, mas nesse dia Geraldo Viramundo não estava lá, e, portanto, nada tem a ver com a nossa história. Quando ele ia só, em vez de pular de uma vez dentro d'água, ia entrando devagarinho, enterrando-se até a canela no barro viscoso do fundo. A água, em geral gelada, fazia seu corpo estremecer num arrepio que subia, subia... e era disso que ele mais gostava.
(O grande mentecapto, Fernando Sabino)
Como podemos perceber, escrever é acordar o passado! Tanto Chico Buarque, em Maninha, quanto Fernando Sabino, em O grande Mentecapto, “acordaram” cenas da infância, tocada a muita aventura. Agora é sua vez!
PROPOSTA DE REDAÇÃO: Elabore uma crônica descritivo-narrativa em que conste um episódio de sua infância. Conduza seu texto na 1.ª pessoa do singular. Use os verbos no passado. Escreva, aproximadamente, 25 linhas. Atribua um título criativo ao texto.
Você já sabe, mas não custa lembrar... Crônica, hoje, é o texto escolar ficcional, leve, curto. É muito comum assemelhar a crônica a um flash do dia, pois, em aproximadamente trinta linhas, o assunto tem de ser compacto e o número de personagens, reduzido. Na crônica descritivo-narrativa, o escritor apresenta (descrever) as personagens, o ambiente e o tempo e, em seguida, cria, desenvolve e finaliza os acontecimentos (narra/relata).
Ao final, o texto deve fornecer respostas para as seguintes perguntas:
. O quê? – fatos que compõem a história/trama . Quem? – personagens que vivem a trama . Onde? – lugar onde ocorrem os fatos . Como? – a maneira pela qual se desenvolvem os fatos . Por quê? – a causa dos fatos/acontecimentos . Quando? – o momento/época em que ocorrem os fatos . E então... – final da trama
Antes de entregar sua crônica ao corretor, revise-a. Releia o que escreveu, faça a autocrítica e a autocorreção: confira se seu texto está fácil de ser entendido, se as frases e os parágrafos estão bem ligados, se os fatos têm uma sequência cronológica e não se atropelam, se não há repetições, se a ortografia, a acentuação gráfica, a pontuação e os plurais estão corretos.