Considere os excertos abaixo, reflita sobre a
coexistência da felicidade, do glamour e dos desafios na vida em sociedade, e
redija uma CRÔNICA sobre esse tema.
Talvez a dor tenha muito
pouco espaço no mundo de hoje, como se fosse possível eliminar esse sentimento.
A dor, de modo inexorável, faz parte da vida, assim como a alegria e o prazer. A
psicanalista Isabel Fortes indica modos diversos de expressar a dor psíquica,
apontando (...) as vias que permitem transformar a dor em alegria. O primeiro
passo em direção a esse caminho é a aceitação – e não a evitação – da dor. A
vitalidade requer uma travessia, incluindo ao mesmo tempo a dor e a alegria
como intensidades que fazem parte do mundo. Nietzsche alega que a dor pode se
transformar em força. Freud diz que é preciso compreender quando e por que se
dá a coexistência de dor e prazer. Resta saber que destino queremos dar à dor.
(...) é bom que aprendas cedo, não há outra maneira
de avançar senão experimentar, seja o que for, pena ou regozijo, ternura ou
estupidez, o seu máximo limite, não se bebe o momento em pequenos goles, mas em
longos tragos (...).
CARRASCOZA, João Anzanello. Caderno de um ausente,
p.22. 1. ed. São Paulo: Cosacnaify, 2014.
As ideias de felicidade são muitas, mas podem
ser remetidas a duas categorias. A visão mais popular é a de uma vida plena de
momentos agradáveis, sem problemas e desafios. A outra nos foi mostrada por
Goethe – já idoso, perguntaram-lhe se sua vida tinha sido feliz. Ele respondeu
que sim, mas que não se lembrava de uma única semana em que o tivesse sido.
Isso implica que ser feliz não significa não ter dificuldades, mas superá-las.
A atualidade mudou essas visões?
Definir o que significa ser feliz é muito complexo.
A própria ideia de felicidade parece conter em si o pressuposto da sua não
existência no mundo. A felicidade deve ser conquistada, mas, no nosso sistema
de consumidores, vendem-se promessas de algo que nos fará nos sentirmos melhor.
Na prática, porém…
Satisfazer os consumidores, na realidade, é o
pesadelo do mercado: envolveria não ter mais nada para vender. Os
especialistas, portanto, sabem nos manter continuamente insatisfeitos. A
publicidade nos promete que seremos felizes com o novo celular, por exemplo,
mas ela tinha feito o mesmo para o modelo anterior e vai refazer o mesmo para o
posterior. Porém, milhões de pessoas correm para comprar.
O capitalismo está condenado, portanto, à
infelicidade?
A atitude do sistema encoraja a ideia de que há algo
que pode resolver todos os problemas e alimenta constantemente tal convicção.
Isso torna os momentos de felicidade muito curtos. O problema é que somos
constrangidos a gastar o dinheiro que ainda não ganhamos para comprar coisas
das quais não precisamos para impressionar pessoas que não nos importam muito.
Esse é o caminho para alongar os momentos de infelicidade.