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EFAF - POEMA - TRÁFICO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS
POEMA - EF ANOS FINAIS
TRÁFICO DE PESSOAS ESCRAVIZADAS
POEMA
ID: I2Z
Você já sabe, mas não
custa lembrar...
Jornalistas, historiadores, chargistas, escritores,
poetas, muitas vezes, utilizam-se dos mesmos fatos sociais para a produção de
textos. Miguel de Cervantes, escritor espanhol, nos ensina que:
“Uma coisa é escrever como poeta, outra como
historiador: o poeta pode contar as coisas não como foram, mas como deveriam
ter sido, enquanto o historiador deve relatá-las não como deveriam ter sido, mas
como, realmente, foram – sem acrescentar nem subtrair da verdade o que quer que
seja”.
(CERVANTES,
M. ln: FARACO; MOURA Língua e literatura. São Paulo: Ática, 2003, p. 84).
Textos
literários e Textos utilitários: Quem faz literatura não
tem compromisso nem com a verdade nem com a objetividade daquilo que escreve.
Esse compromisso é, em especial, dos jornalistas, responsáveis por transmitir,
legítima e objetivamente, os fatos, por meio das notícias, que são chamadas textos utilitários (ou não literários).
Os textos utilitários cumprem a “função referencial da linguagem”. Poetas e
escritores, os quais desenvolvem textos
literários, têm a missão de arranjar a mensagem, a fim de que o leitor
sinta prazer na leitura. É isso o que chamamos “função poética da linguagem”.
As
figuras de linguagem são ferramentas dos poetas: As
figuras de linguagem são recursos que valorizam, que enfeitam a produção
textual – elas são frequentemente exploradas ao longo dos textos literários. Metáfora,
comparação, personificação e sinestesia são as figuras de linguagem mais
usuais. Busque na Gramática definição e exemplos de cada uma dessas figuras de
linguagem.
Observe as sentenças abaixo, as quais têm a mesma
informação:
1.
O pato morreu.
A informação é objetiva, sem enfeites; é um texto
utilitário; cumpre a função referencial da linguagem.
2.
A ave, agonizando, deu o último suspiro.
A informação é valorizada pelo emprego de figuras
de linguagem; é um texto literário; cumpre a função poética da linguagem.
(Perceba que a mensagem, tocada a sentimento, é mais importante do que a
informação.)
Como escrever um poema? É só rimar “coração”
com “emoção”?
Muitos acreditam
que, para escrever um poema, é preciso compor estrofes (agrupamento de versos),
saber rimar (repetição de sons iguais ou parecidos ao final dos versos) e
metrificar (compor, em cada verso, o mesmo número de sílabas poéticas). Será?
Contudo, também
é possível escrever versos livres, agrupando-os em estrofes. Versos livres são
aqueles que não obedecem a um padrão métrico nem rítmico, o que permite ao
poeta maior liberdade criativa.
Um poema pode
ser escrito a partir de sentimentos (amor, angústia, medo, prazer etc.), objetos
físicos (guarda-chuva, violão, travesseiro, gato etc.), abstrações (sombra, eco,
vazio etc.) ou fatos sociais (guerra, meio ambiente, desigualdade etc.). Frequentemente,
o poema contém título.
CONTEXTUALIZAÇÃO: Sabe-se que o tráfico transatlântico de pessoas
escravizadas constitui uma das mais brutais violações de direitos humanos da
história. Durante séculos, milhões de africanos foram tirados de suas terras,
de suas famílias e de suas culturas, além do que foram tratados como
mercadorias e submetidos a condições desumanas de transporte e trabalho forçado,
nas Américas. Esse processo não pode ser descrito em tons neutros ou amenos,
pois se tratou de violência sistemática, sustentada por interesses econômicos
coloniais e legitimada por ideologias racistas que, ainda hoje, ecoam na
sociedade. A visão eurocentrada, que tenta suavizar a escravidão como se fosse
um “mal necessário” para o desenvolvimento, deve ser firmemente contestada. O
protagonismo da narrativa precisa estar com os povos africanos e seus
descendentes, que não foram apenas vítimas passivas, e sim sujeitos que
resistiram, preservaram tradições, recriaram práticas culturais e forjaram
novas formas de existir, muitas delas presentes na música, na religiosidade, na
oralidade e na literatura contemporânea produzida por vozes negras.
Esse passado de violência não está distante da
realidade atual. O racismo estrutural, herança direta do regime escravocrata,
continua a marcar a vida da população negra no Brasil, seja pela desigualdade
socioeconômica, seja pelo preconceito cotidiano, seja pela marginalização das
produções culturais negras. Reconhecer essa herança é fundamental para
desconstruir mitos de democracia racial e abater práticas de exclusão que
persistem. Para os estudantes contemporâneos, compreender a escravidão como um
processo histórico de desumanização e, ao mesmo tempo, de resistência, é também
compreender as raízes do racismo e os desafios de combatê-lo. Mais do que
lembrar, é preciso aprender com esse passado: não para cristalizar o
sofrimento, e sim para valorizar as trajetórias de luta e de criação que,
apesar da opressão, transformaram e ainda transformam o Brasil. Refletir sobre
o tráfico de pessoas escravizadas, portanto, é refletir sobre o presente; é assumir
a responsabilidade de construir um futuro em que a dignidade, a igualdade e a
justiça não sejam privilégios, e sim direitos concretos para todos.
COMANDO: A partir não só do contexto, como também de seus
conhecimentos, escreva um POEMA, cujo eu lírico reflita sobre o tema: “Não há democracia racial em terra
ferida”. Escreva de 15 a 20
versos. Atribua um título ao poema.