A “imprensa líquida”, de Zygmunt Bauman – Comentário
para o programa radiofônico do OI, 4/6/2012 | Observatório da Imprensa | Você
nunca mais vai ler jornal do mesmo jeito.
O pensamento de Bauman oferece um interessante
arcabouço conceitual para o entendimento de certas características, que podem
ser facilmente observadas na imprensa tradicional. Um deles é a tendência de se
apropriar do poder, que se dissociou rapidamente da política – com a redução do
papel do Estado –, a ascensão do individualismo e a colonização do espaço
público por instituições privadas.
Entidades "líquidas"
Essa constatação permite compreender, por exemplo,
por que razão a atividade jornalística, praticada sobre a plataforma de
entidades privadas, se comporta como detentora de atribuições típicas do antigo
poder político. Assim como, na esfera do Estado, indivíduos organizados em
partidos políticos exercem, na verdade, o papel de defensores de interesses
privados, a imprensa, instalada no ambiente privado, invade áreas que
historicamente sempre pertenceram à esfera pública, para exercer um poder
típico da política. É nessa mudança de campo, aliás, que a imprensa tenta
reinstalar sua antiga hegemonia sobre a sociedade, criticamente abalada pelo
advento das novas tecnologias digitais, que dissolvem aquilo que antigamente se
chamava mídia. Para isso, ela precisa se apropriar de valores e crenças
fundamente arraigados no imaginário humano, e que ainda compõem o conjunto de
laços formadores de comunidades. Embora o sentido dessa palavra tenha se
corrompido ao longo do tempo, principalmente em função da colonização do espaço
comum pelo jogo do consumo, o ser humano ainda depende desses vínculos de
comunidade para sobreviver e se sentir seguro. O exercício da política também é
influenciado pelo estado “líquido” das entidades sociais, e claramente se pode
perceber como muitos protagonistas desse jogo agem de maneira fluida entre os
escaninhos do poder, em grupos que não têm necessariamente uma sigla em comum,
na defesa de seus interesses.
A imprensa brasileira sofreu muito na mão do governo,
historicamente. Por conta disso, foram assegurados vários direitos relativos à informação,
à liberdade e ao jornalismo, na Constituição de 1988:
· nenhuma lei ou
dispositivo pode vetar de qualquer forma a plena liberdade da informação
jornalística;
· é vedada toda censura
– seja de natureza política, ideológica, artística;
· é assegurado o direito
de resposta, proporcional ao agravo que o indivíduo tenha sofrido, e o ofensor
está sujeito a pagar indenização por dano material, moral ou à imagem.
A liberdade de imprensa é para veículos de comunicação o
equivalente ao que a liberdade de expressão significa a uma artista. Não há
como exercer os fundamentos do jornalismo e da comunicação em geral sem ampla e
irrestrita liberdade em fazê-lo. O jornalismo deve atender à sociedade civil ao
noticiar, informar, denunciar, escrever, detalhar tudo aquilo que é ou pode vir
a ser de interesse público.
A liberdade de imprensa é importante para toda a sociedade,
porque veículos de comunicação devem ser capazes de denunciar e dar informações
sobre escândalos de empresas estatais em seus jornais, sem que o governo os
censure; da mesma forma, falar sobre lobby e irregularidades promovidas por
empresas privadas. Assim como devem ter soberania investigativa e trazer à tona
questões invisíveis, outras perspectivas e ser o mais honesto possível nas suas
publicações.
Portanto, tem também o dever profissional de ouvir o máximo
de versões possíveis dos fatos, entrevistar o máximo de fontes necessárias –
não apenas as “oficiais”, como o governo – e reportar seu lado com a
honestidade inerente à atividade jornalística. Porém, só consegue fazê-lo se
for livre.
Liberdade de imprensa
x Liberdade de expressão
Por isso, não se deve confundir liberdade de expressão com
liberdade de imprensa, pois ambas têm naturezas distintas. Enquanto a liberdade
de imprensa nasce da reivindicação de profissionais do jornalismo, que têm
pautas baseadas na sua experiência na área, a liberdade de expressão é pautada
na possibilidade de qualquer cidadão de se manifestar – seja com ideias, ideais,
história, arte, trabalho, protesto.
PROPOSTA DE REDAÇÃO: A partir da
leitura dos textos e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade formal da
língua portuguesa sobre o tema: “Reflexões sobre o papel da mídia, a liberdade
de imprensa e a opinião pública”.