Conhecer a essência dos processos de produção e correção de redações na educação é essencial para desenvolver ou otimizar metodologias de ensino. Visando orientar a elaboração de melhores práticas pedagógicas, este artigo promove reflexões sobre como melhorar todos os temas que envolvem as aulas de práticas textuais na Educação Básica.
Durante participação no Podcast Carta Magna, da Plataforma Redigir, Milene Bazarim, professora da Universidade Federal de Campina Grande, refletiu sobre as práticas de produção textual na escola.
De acordo com a docente, o entendimento sobre as práticas atuais de produção de texto passa pela compreensão de como eram os processos em seus primórdios. Dessa forma, o recorte histórico proposto por ela começa em meados do século XIX. Com a autoridade que lhe é cara, a pesquisadora elenca as três perspectivas que compreendem o ensino da escrita nas escolas, conforme disponíveis a seguir.
Eis a prática de produção de texto mais antiga de que se tem notícia no ensino brasileiro. Segundo Milene Bazarim, o objetivo da composição é “treinar os alunos para escreverem ‘de forma elegante’”. Esse treino era baseado nos fundamentos da imitação e da reprodução, ou seja, o aluno tinha que copiar os modelos de textos passados pelo professor. Os exemplos de textos selecionados integravam a icônica “antologia nacional”, que hoje equivale às apostilas e aos livros didáticos.
De acordo com os estudos explanados por Bazarim, na aula de composição os alunos aprendiam a desenvolver “cartas, narrações e descrições”. Apesar das “cópias” de textos ministradas durante os treinos de escrita, havia momentos em que se podia produzir material autoral e até discursos de improviso.
As práticas de produção textual sob a ótica da composição eram entendidas como suficientes para formar bons produtores de texto. A evolução natural das metodologias pedagógicas, no entanto, indica que essa perspectiva tem suas fragilidades e limitações, incluindo:
Por fim, a composição como prática de produção de textos nas escolas buscava observar “o quanto o texto do aluno se aproximava ou se distanciava do modelo” proposto na aula. Em outras palavras, não havia preocupação com os processos de construção textual. Ou seja, essa metodologia não incentivava o aluno a desenvolver domínio pleno da linguagem escrita.
O uso do termo redação para nomear as práticas de produção de texto escolar começou a ser utilizado em algum momento da década de 1950. Dessa forma, essa modalidade é contemporânea, ou seja, “gestores, professores e coordenadores lidaram com escrita de redação” em algum momento de sua trajetória.
Diferentemente da composição, a essência da redação escolar não está atrelada aos gêneros escolares, literários e tampouco aos conceitos associados à “escrita elegante”. Todavia, essa metodologia mantém o foco na “reprodução de uma estrutura prototípica e mais idealizada do que real”. Nesse sentido, a ideia é reproduzir as estruturas narrativa, descritiva e dissertativa. Outro diferencial é o fato de que os textos trabalhados aqui ultrapassam os limites da antologia nacional.
A prática da redação escolar também não passa incólume às limitações. Segundo a pesquisadora, entre as principais fragilidades dessas produções estão:
Em conclusão, a prática de redação escolar também é uma atividade “engessada e homogeneizante”.
Um grupo de linguistas aplicados, sob a liderança do professor Wanderley Geraldi, da Unicamp, defendeu a tese de que o texto fosse considerado a unidade básica para o ensino da Língua Portuguesa. Um dos frutos dessa militância, inclusive, foi o livro O texto na sala de aula: leitura & produção, lançado em 1984.
Uma das principais influências deste grupo, segundo Bazarim, “foi a tentativa de superar as práticas de texto coercitivas e pouco produtivas que se restringiam à redação escolar”. Dessa forma, a produção de texto assume um caráter complexo, pois mobiliza conhecimentos linguísticos, cognitivos e sociointeracionais.
Quando comparada à produção de redação, a produção de texto tem o diferencial de ser mais contextualizada. Teoricamente, o aluno sabe “o que produzir”, bem como conhece o objetivo, a finalidade e o público. Ademais, conforme pontua a pesquisadora, “na prática de produção de texto, o professor não é o único leitor e atua mais como um mediador e menos como examinador. Dessa forma, essa prática escrita assume as seguintes características:
Por fim, a pesquisadora lembra que o perfil da prática de produção de texto dialoga com mais harmonia com os preceitos da Base Nacional Curricular (BNCC).
Os coordenadores, professores e diretores de hoje pertencem a uma geração em que as práticas de redação eram legítimas. Por isso, ao longo dos últimos 20 anos as práticas de produção de texto nas escolas passam por um momento de dualidade: em uma via estão os saberes que validam o tradicionalismo da composição e da redação, e na outra via encontram-se as “demandas de inovação sinalizadas em pesquisas no campo da educação e nos documentos curriculares”.
De forma incisiva, no entanto, Bazarim compreende que é tempo de as práticas pedagógicas trabalharem no sentido de aposentar as práticas improdutivas. Para alcançar esse objetivo, a professora destaca que as escolas devem superar os desafios a seguir:
De antemão, é preciso entender a produção textual como uma avaliação e não como um exame. Afinal, pontuar ou dar vistos em uma atividade não são práticas probatórias suficientes para comprovar o desempenho do aluno.
Logo, é necessário aplicar formas de correção qualificada, buscando identificar as necessidades de aprendizagem do aluno. A partir desse inventário de pontos fracos, o professor parametriza os fundamentos mais urgentes e traça as estratégias pedagógicas para o desenvolvimento em aula. O objetivo aqui é induzir o aluno a enxergar suas fragilidades e erros e empreender soluções para que elas sejam sanadas.
O grande benefício dessas correções é o engajamento que elas provocam. Em outras palavras, o aluno se identificará muito mais com as propostas de produção de texto e, consequentemente, elevará os patamares do aprendizado.
Em conclusão, entende-se que é saudável fazer com que o aluno seja protagonista nos processos de produção e correção de redação. Para conferir dicas ainda mais definitivas sobre esse tema, não deixe de conferir a edição do podcast Aula Magna, na íntegra.
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