No Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2024, os candidatos foram convidados a refletir sobre “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil“. Este tema, além de pertinente, abre espaço para uma discussão profunda sobre a importância do reconhecimento e da integração das contribuições africanas na formação da identidade cultural brasileira. Neste episódio do Podcast Redigir, a professora Gislaine Buosi, professora de Redação e Literatura, explora este tema, oferecendo insights valiosos e contextualizando a escolha do INEP. Ao final, você pode conferir uma dissertação modelo sobre o tema.
Confira o episódio!
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A obra literária “Nós matamos o cão tinhoso”, do autor moçambicano Bernardo Honwana, deve ser lembrada quando se enfrentam os desafios para a valorização da herança africana, em favor da construção do berço cultural brasileiro. Com efeito, o autor desnuda a realidade de África, que em muito lembra o dia a dia da população desse país verde e amarelo.¹ Contudo, se, por um lado, cenas de miséria e desalento, tão bem desenhadas por Honwana, reclamam o devido lugar de fala da comunidade negra no Brasil,² por outro, é tempo de celebrar legados que têm sido determinantes para a formação intelectual nacional, entre os quais a linguagem, a música e a gastronomia.³ Infere-se, portanto, a urgência em reparar tal silenciamento, promovendo a visibilidade da cultura afrodescendente.⁴
Nesse sentido, garantir o lugar de fala a 20,7 milhões de pessoas que, segundo o Censo de 2022, se autodeclaram negros é questão de reconhecimento e justiça social. Isto posto, importa observar o fato de que a sociedade brasileira, marcada pelo passado escravocrata e eurocêntrico, ainda reflete em seus estratos a marginalização do negro, que, em busca da visibilidade social, se vê forçado a lutar contra estereótipos históricos, que associam o corpo negro ora a um objeto a ser explorado pelo trabalho, ora a uma ameaça à segurança pública. Nessa análise, cabe retomar Ginho, de Honwana, que desenha a metáfora da marginalização do corpo negro, pois o personagem é levado a apedrejar o Cão Tinhoso, que, apenas pelo fato de existir, incomoda os demais. Fora da ficção, o alvo principal de balas perdidas no Brasil é esse grupo social que a tantos, injustamente, também incomoda.⁵
Ademais, é preciso reconhecer que as contribuições da cultura africana na formação do Brasil são inestimáveis e se manifestam em diversos aspectos da vida nacional. A música africana que reverbera, por exemplo, no samba engrandece o povo brasileiro dentro e fora do país, muito embora, por vezes, esse dado historiográfico não chegue aos estudantes em função de aulas que não promovem uma identidade crítica. Enquanto isso, pratos doces e salgados trazidos do continente africano, com especiarias que atendem aos mais exigentes paladares, têm sido registrados nos anais da gastronomia de grandes chefs, mas não são postos nas mesas de grande parte das pessoas negras. Apesar de toda essa riqueza, lamenta-se o fato de que a História ainda jogue tanta luz apenas nos navios negreiros que, um dia, aportaram no litoral brasileiro.⁶
Por fim, para a valorização da herança africana, é necessário um esforço coletivo de instituições de ensino, mídia, sociedade civil em parceria com o MEC, a quem cabe implementar e fiscalizar a fiel aplicação de grades curriculares que fomentem disciplinas como Educação e Cultura Africanas, oportunidade em que se pontuará suas relevantes contribuições para a formação da identidade nacional. Isso deve ser feito por meio da apresentação não só de personalidades negras, como também, e principalmente, das respectivas atuações, a fim de que o conhecimento abra caminho para a desconstrução da visão eurocêntrica que até aqui tem predominado nos livros didáticos. Afinal, o Brasil é grande e acolhedor – há um lugar histórico, socialmente aceito, para abrigar e respeitar o legado dos irmãos brasileiros de Honwana.⁷
Por Gislaine Buosi
Análise da dissertação:
¹Apresentação do tema e repertório sociocultural;
²Síntese do primeiro argumento;
³Síntese do segundo argumento;
⁴Tese, que acena à ação interventiva;
⁵Conectivo + desenvolvimento do primeiro argumento + vinculação do repertório sociocultural;
⁶Conectivo + desenvolvimento do segundo argumento + repertório sociocultural próprio;
⁷Conectivo de conclusão + proposta de ações interventivas.
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