A Pesquisa Nacional Sobre Práticas Pedagógicas em Redação* foi realizada a partir da aplicação de simulados de Redação, segundo os padrões do texto dissertativo-argumentativo do Enem, a alunos do Ensino Médio de instituições particulares. A aplicação desses simulados foi feita pelas próprias escolas participantes, que escolheram um entre os vários temas de redação que disponibilizamos na Plataforma Redigir. Cumprida essa etapa, professores de Redação e coordenadores pedagógicos, em entrevista individual à equipe pedagógica da Redigir, responderam detalhada e pontualmente a um questionário com questões relacionadas aos processos de ensino-aprendizagem de Linguagens e de Redação.
A partir das respostas e da análise dos resultados das instituições participantes (considerando-se tanto as notas médias das redações quanto os resultados por competência), cruzamos todos os dados obtidos no simulado Redigir com os microdados do Enem 2019 (disponibilizados em 2020) e, por meio do cotejamento desses resultados relativamente às declarações fornecidas pelos professores e coordenadores, procuramos identificar as práticas pedagógicas que favoreceram os melhores resultados.
No texto de hoje, que é o segundo da nossa série de quatro pílulas, veremos três conclusões que se referem à dimensão do professor e seus impactos na aprendizagem de texto na modalidade Enem. Para ler sobre a pílula 1, que aborda a dimensão da aula, clique aqui!
Deve haver professores diferentes para as disciplinas de Redação, Literatura e Língua Portuguesa?
Diante do fato de que as aulas pertinentes à área de Linguagens podem ser ministradas a partir de diferentes configurações (por exemplo, com professores que, sozinhos, atendem às três disciplinas, a duas ou a apenas uma delas), também investigamos qual distribuição tende a favorecer os melhores resultados em Redação.
A partir dos resultados obtidos, verificam-se médias maiores entre alunos com mais variedade de professores na área de Linguagens (a média é 12,6% maior quando há um professor para cada disciplina). Embora todas as competências sejam positivamente afetadas pela diversidade de professores, os destaques estão novamente concentrados nas competências 3 e 5, que representam, respectivamente, médias de 16 e 18% maiores do que escolas que não dispõem de professores específicos para as disciplinas de Redação, Literatura e Língua Portuguesa. Portanto, a pesquisa indica que a diversificação de professores na área de Linguagens traz melhores resultados em Redação.
Os textos devem ser corrigidos pelo próprio professor de Redação?
O debate acerca dos instrumentos de avaliação bem como dos processos subjetivos que os envolvem já é bastante conhecido, especialmente em relação à correção de textos, a questões abertas e a itens de resposta construída. Afinal, a quem deve ser atribuída a responsabilidade pela correção das redações?
Identificamos que turmas que têm correção externa apresentam resultados até 9,5% superiores do que turmas cujo próprio professor de Redação é o responsável pelas correções. Essa diferença é percebida em todas as competências, com destaque para a 1 e a 3, com diferenças percentuais de 21,7% e 14,6%, respectivamente.
O professor de Redação deve integrar a banca corretora do Enem?
Embora essa não seja uma característica determinante para a qualificação dos professores, é preciso apontar o fato de que os critérios de correção das redações do Enem são atualizados anualmente. Logo, isso significa assumir que, independentemente da participação do professor na banca oficial, é indispensável que ele também se atualize acerca do processo de formação dos corretores.
Identificamos, então, que turmas que têm professores que já integraram a banca corretora do Enem apresentam médias até 7,5% maiores do que turmas cujos professores não têm essa experiência. Destaque, novamente, para as competências 1 e 3, com diferenças verificadas em 16,5% e 11,7%, respectivamente. Portanto, a pesquisa aponta para o fato de que é desejável que o professor de Redação já tenha passado pela banca oficial de correção do Enem.
*É importante destacar o fato de que, em um estudo como este, cujo alcance é relativamente controlado e cujo recorte compreende estudantes de diferentes regiões do país provenientes unicamente de instituições particulares, não é possível isolar variáveis como a estrutura física das instituições, a formação dos professores, a renda familiar, entre outros fatores que influenciam decisivamente o rendimento escolar. Portanto, as hipóteses aqui apresentadas e suas relações, por um lado, precisam ser compreendidas em perspectiva, pois suas causalidades e efeitos podem não ser sempre necessários. Há, sim, por outro lado, correlações muito significativas, as quais sugerem que determinadas práticas pedagógicas estejam mais objetivamente associadas a melhores resultados.
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