A adultização infantil é um tema de grande relevância social e, portanto, potencial para ser abordado na redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Conforme a Cartilha do Participante do ENEM, a prova de redação exige a produção de um texto dissertativo-argumentativo sobre um tema de ordem social, científica, cultural ou política. A adultização, que frequentemente atua como um gatilho para a erotização infantil, configura-se como um problema social significativo, envolvendo a família e a educação em diversas camadas, especialmente a emocional.
A influência dos apelos midiáticos amplifica essa problemática, especialmente em um contexto em que influenciadores mirins, que se comportam como adultos bem-sucedidos, dominam as redes sociais. Esses jovens influenciadores impulsionam mercados como o de roupas, turismo e academias, além de popularizarem tutoriais de maquiagem e até mesmo a tendência dos cozinheiros mirins. É notável como essas crianças, muitas vezes incentivadas pelos próprios pais, trocam brincadeiras tradicionais por atividades voltadas para as câmeras.
Essas provocações são apenas o início de uma discussão profunda e necessária. Fique conosco enquanto exploramos as implicações dessa temática, dividida em quatro blocos: considerações sobre a redação do ENEM, apresentação do tema, repertório sociocultural e tese, argumentação e, finalmente, sugestões de intervenções possíveis para resolver essa problemática.
A redação do ENEM é corrigida com base em cinco competências, cada uma valendo até 200 pontos, totalizando 1000 pontos. A seguir, detalhamos cada uma dessas competências e como elas podem ser aplicadas para abordar o tema de maneira eficaz.
1. Domínio da Norma Culta
A primeira competência avalia o domínio da escrita formal. Isso inclui ortografia, morfologia, sintaxe de concordância e regência, além do uso formal do idioma. É importante evitar coloquialismos, gírias e cacoetes da linguagem. A escrita formal não significa usar palavras difíceis; pelo contrário, a clareza e a simplicidade são fundamentais. O segredo da boa escrita está na correção gramatical e na escolha de palavras que sejam imediatamente compreensíveis para o leitor.
2. Compreensão do Tema, Atendimento ao Tipo e Citação de Repertório Sociocultural
A segunda competência exige a compreensão do tema proposto, o atendimento ao tipo textual (dissertativo-argumentativo) e a citação de repertório sociocultural. Tangenciar o tema, ou seja, abordar o assunto de forma ampla sem focar no recorte específico, pode resultar em perda de pontos. Para evitar esses erros, é recomendável utilizar palavras ou expressões-chave do tema em cada parágrafo e buscar sinônimos para evitar repetições. Além disso, o texto deve ser predominantemente argumentativo, com informações que fundamentem as argumentações. O repertório sociocultural deve ser pertinente, legitimado e bem aproveitado ao longo do texto.
3. Seleção e Organização de Argumentos
A terceira competência verifica a capacidade do candidato de selecionar, organizar e relacionar argumentos pertinentes ao tema. Isso envolve a escolha de fatos, causas, consequências, comparações e exemplificações bem conectadas ao tema. A organização do texto deve seguir uma estrutura lógica: introdução com apresentação do tema e tese, desenvolvimento dos argumentos nos parágrafos intermediários e uma conclusão que inclua a proposta de intervenção social.
4. Conhecimento dos Recursos Coesivos
A quarta competência avalia o uso de mecanismos de coesão, como conjunções, pronomes e preposições. A coesão pode ser interparágrafos (entre parágrafos) e intraparágrafo (dentro do parágrafo). Além disso, é importante evitar repetições e construir parágrafos com mais de uma frase para evitar que a ideia principal se perca. O texto deve conter períodos simples e compostos por coordenação ou subordinação.
5. Proposta de Intervenção Social
A quinta competência exige uma proposta de intervenção social que inclua ação, agente, modo ou meio, finalidade e detalhamento de pelo menos um desses elementos. A proposta deve responder às perguntas: o que deve ser feito para resolver o problema? Quem deve fazer? Como deve ser feito? Para que deve ser feito? Evite intervenções genéricas e busque soluções pontuais, direcionadas às causas e consequências discutidas no texto.
No segundo bloco, o foco é a apresentação do tema, a introdução de repertórios socioculturais pertinentes e a formulação de uma tese clara e bem fundamentada. O recorte temático a ser discutido é “Mídia e adultização – Consequências da perda irreparável da infância“. Este tema exige uma análise profunda sobre como a mídia contribui para a adultização infantil e quais são as consequências dessa tendência para a saúde física e emocional das crianças.
Para iniciar a discussão, é eficaz utilizar uma voz de autoridade que esteja correlacionada ao assunto. Casimiro de Abreu, um dos expoentes da poesia romântica brasileira, é um exemplo pertinente. Em seus versos, ele expressa a saudade da “aurora da vida”, da infância querida que os anos não trazem mais. Esse sentimento de nostalgia pela infância perdida se alinha perfeitamente com a problemática da adultização infantil, que é amplificada pelas mídias digitais. Hoje, o poeta ficaria perplexo ao ver como a infância tem sido sistematicamente desconstruída, resultando em graves consequências não só para a saúde física, mas também para a saúde emocional de um sem-número de adultos precoces.
Outro repertório sociocultural relevante pode ser encontrado nas Escrituras, especificamente nas palavras do apóstolo Paulo aos coríntios: “quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino”. Este fragmento sublinha a importância de viver cada fase da vida em seu tempo adequado, destacando o impacto negativo de forçar uma criança a adotar comportamentos adultos prematuramente.
Além disso, a literatura brasileira oferece ótimos exemplos para enriquecer a argumentação. No capítulo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a frase “O menino é o pai do homem” ilustra como as experiências e comportamentos da infância moldam o adulto que a criança se tornará.
Com o tema e os repertórios socioculturais apresentados, é hora de formular a tese. A tese deve ser clara e direta, estabelecendo o ponto de vista que será defendido ao longo do texto. Para este tema, a tese pode ser: “Quando o assunto envolve comportamento, em especial no que diz respeito à adultização, a educação familiar deve ser priorizada, sob pena de retrocessos irreparáveis na formação psicossocial da criança“.
Essa tese destaca a responsabilidade da família na educação e no desenvolvimento emocional das crianças, enfatizando que a adultização precoce pode ter consequências graves e duradouras. No próximo bloco, será discutida a argumentação, explorando as causas e consequências da adultização sistêmica, especialmente em relação aos apelos midiáticos.
Neste terceiro bloco, a argumentação se aprofunda nas causas e consequências da adultização, com um foco especial nos apelos midiáticos que impulsionam essa tendência. A análise deve ser detalhada e fundamentada em exemplos concretos, legislação pertinente e referências socioculturais.
A adultização infantil é muitas vezes alimentada pela supervalorização do comportamento adulto. Embora seja verdade que os pais devem servir de exemplo para os filhos, isso deve se restringir a aspectos de caráter e atitudes corretas. Infelizmente, muitos pais acabam incentivando comportamentos adultos em seus filhos, como desfilar em cabideiros de roupas ou contratar um barman para festas de aniversário. Esses comportamentos são frequentemente promovidos pelos próprios pais, que parecem querer transformar seus filhos em pequenos adultos, enfeitando-os com penduricalhos e competindo para ver qual criança é a mais bonita, a mais bem vestida ou a mais bem maquiada.
Esse fenômeno está intimamente ligado ao consumismo. O mercado da moda, por exemplo, explora crianças recém-desfraldadas, transformando-as em miniaturas de adultos para vender roupas e acessórios. A mídia desempenha um papel crucial nesse processo, promovendo influenciadores mirins que se comportam como adultos bem-sucedidos e incentivam outras crianças a seguirem o mesmo caminho.
Outro aspecto importante a ser considerado é o controle do conteúdo midiático ao qual as crianças são expostas. Quem deve controlar o que a criança assiste na televisão ou nas redes sociais? A resposta óbvia é os pais, mas na prática, muitas vezes, as crianças têm acesso irrestrito a conteúdos inadequados. Coreografias sensuais e obscenas, por exemplo, são frequentemente aplaudidas pela família, sem que se perceba o incentivo à erotização precoce. Esse tipo de exposição pode levar a consequências graves, como o início precoce da vida sexual, gravidez na adolescência e problemas emocionais.
A Constituição Federal, no artigo 227, estabelece que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, entre outros, protegendo-os de toda forma de negligência, discriminação e exploração. O Estatuto da Criança e do Adolescente define que “criança” é a pessoa com até 12 anos, e “adolescente” é aquela entre 12 e 18 anos. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera o casamento infantil aquele que acontece antes dos 18 anos. Esses dispositivos legais reforçam a necessidade de proteger a infância e garantir que as crianças vivam essa fase de forma plena e saudável.
A adultização precoce tem consequências emocionais e psicológicas graves. A Psicologia aponta que adultos que foram forçados a amadurecer cedo frequentemente enfrentam problemas emocionais e podem regredir em busca de uma infância que lhes foi negada. Esses indivíduos podem desenvolver transtornos emocionais, dificuldades de relacionamento e problemas de autoestima.
Portanto, a adultização infantil é um problema complexo que envolve múltiplos fatores e tem consequências profundas para o desenvolvimento das crianças. No próximo bloco, serão sugeridos caminhos possíveis para resolver essa problemática, com propostas de intervenção social que visem proteger a infância e promover um desenvolvimento saudável para as futuras gerações.
Neste último bloco, serão sugeridas propostas de intervenção social para enfrentar a problemática da adultização infantil, especialmente no contexto dos apelos midiáticos. As intervenções devem ser específicas, viáveis e detalhadas, abordando a questão de maneira prática e eficaz.
Assim:
Portanto, para coibir a adultização, a educação familiar se impõe, a fim de que os pais assumam a responsabilidade de promover diálogos e interações, por meio de atividades que estimulem a imaginação e o brincar, com o intuito de salvaguardar a formação física, cognitiva e emocional dos filhos, a caminho da fase adulta ideal. Por seu turno, a Anatel, agência responsável por fiscalizar e regulamentar os serviços de telecomunicações no Brasil, incluindo os serviços de internet, deve triar com mais eficiência e segurança as programações apropriadas a crianças, com diretrizes mais claras e punições mais pontuais àqueles que veicularem conteúdos incompatíveis a esse público. Afinal, como diria Gonzaguinha: “eu fico com a pureza da resposta das crianças – a vida é bonita, é bonita e é bonita”.
Caso queiram conhecer, já está disponível no site uma dissertação modelo sobre esse tema.
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