Imagine que seja proposto a você o tema “Doação de órgãos – não interrompa o rumo da conversa, não interrompa o rumo da vida.” Para não fugir do recorte temático, cuide em trazer à tona a problemática que envolve o processo de doação e transplante, o aumento gradativo do número de doadores, a longa fila à espera de doadores, a resistência da família em autorizar a remoção de órgãos, etc.
Entretanto, se você se descuidar e focalizar a precariedade do atendimento médico-hospitalar, o erro médico, a necessidade de médicos nas regiões periféricas do país, sem, contudo, vincular consistentemente esses argumentos ao recorte temático, qual seja, doação de órgãos, lamentavelmente, sua redação será zerada, vez que fugiu totalmente do tema proposto.
A partir do material de apoio e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija um texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “Doação de órgãos – não interrompa o rumo da conversa, não interrompa o rumo da vida.” Apresente, também, uma proposta de intervenção social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de maneira coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
Quem rim por último, rim melhor
Na Rússia, anuncia-se um rim por 25 mil dólares. Nas Filipinas, um fígado por 100 mil. Na África do Sul, um coração por 290 mil. Pechinchas como essas espalham-se na internet, o mercado mais aquecido do século XXI. Doação, venda e tráfico de órgãos – temas que precisam ser desmitificados, enfrentados. A venda de órgãos, por ser ilegal, escancara as portas ao tráfico. Tanto é assim que o turismo de transplante já não é novidade na Índia – pela extrema pobreza da população, que se vê obrigada a dispor de um rim como quem dispõe de uma galinha –, nem tampouco na China – de quem o mundo ocidental depende, não só por conta da mão de obra barata, mas também por conta do mercado negro de órgãos dos 10 mil executados por ano – a China adota a pena de morte, armazém do tráfico de órgãos.
A questão também nos afeta. Estudos recentes indicam que no Brasil existem cerca de 70 mil pessoas na fila de espera por transplantes de órgãos. Sabe-se, ainda, que muitos pacientes ali aguardam há mais de dez anos. Soma-se a essa informação a de que, todos os dias, no Brasil, pelo menos, 115 pessoas morrem em acidentes de trânsito e outras 175 são assassinadas. Soma-se outra: um corpo doado pode beneficiar até 25 pessoas. A matemática, ciência exata que é, resolveria tudo isso com facilidade. Entretanto, a doação de órgãos é bem mais intrincada do que parece.
A mídia eletrônica não só anuncia que qualquer pessoa pode ser doadora de órgãos, como também incentiva a discussão do assunto na roda de conversa familiar, vez que não basta a intenção do futuro doador – é preciso também a solidariedade da família quando da morte dele, vez que à família, conforme apregoa a lei, pertence o corpo. Para isso, a argumentação, simples e cabal, deve apoiar-se num truísmo, qual seja, não sabemos o dia de amanhã. Verdade: se hoje não nos contamos entre os 70 mil enfileirados, a expectativa de longevidade pode falhar e, então, amanhã a fila pode ainda se alongar.
A solução é imitarmos os países que já avançaram nos serviços de captação e transplante de órgãos, como a Espanha, onde a temática da doação está inserida no cotidiano desde muito cedo – das salas de aula às salas de jantar fala-se abertamente sobre a doação de órgãos, que é vista com naturalidade. A doação de órgãos é a expectativa de vida sem um ponto final precoce e abrupto.
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